quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dois contos de Machado, uma análise (Comemorando os cem anos de sua morte)

Missa do Galo

-Relação entre narrador e leitor

-Consciência

-Memória



Missa do galo é um conto de Machado de Assis com algumas características do romantismo literário, no entanto, já com diversos recursos do realismo. Como o suspense, o final inesperado, o famoso puxar de tapete de Machado, as questões de dúvida, consciência do personagem referente ao conflito em questão. Atrelado ainda com algumas características românticas como, a mulher idealizada e perfeita (como uma santa, seguidora de toda moral) tomando o papel de Conceição, papel este que muda com o andar da história, as morais e costumes da sociedade muito presentes, entre eles a própria missa do galo e a vontade da personagem principal em vê-la.

Neste conto, Machado se utiliza do narrador a primeira pessoa para aproximar o leitor do personagem e até mesmo confundi-lo com a opinião pessoal e limitada do mesmo. Em Missa do galo o personagem principal Nogueira, um homem que se apresenta um tanto quanto conservador, inocente, vindo do interior, religioso, proveniente de bons costumes ao longo do texto, ao ponto de não entender a misteriosa sedução de Conceição e negá-la, confundindo freqüentemente o leitor com isso, hora ele gosta e se mostra seduzido, hora tenta se afastar. Machado cria um ar de expectativa com este narrador-personagem ao longo do texto misturando o tempo cronológico com o psicológico, dando um ar de suspense com as dúvidas partilhadas de Nogueira, dando aos leitores o mesmo ar duvidoso conforme ele se sente cada vez mais seduzido por Conceição, até um ar de esperança dependendo do tipo de leitor. E esta narração é bem detalhada, ele atrela o diálogo entre os dois junto de uma ótima descrição do ambiente, o que prendia a atenção de Nogueira, o que se passava em sua cabeça.

Com tudo isso, concluímos que a relação entre o narrador e o leitor é muito próxima, colocando o leitor na mesma situação de Nogueira, causando as mesmas dúvidas, sensações, vontades e até mesmo a consciência. Portanto, vamos à consciência. Não há como definir as intenções de Conceição e o que realmente Nogueira quis, pois Nogueira também parte de um convencimento de que, a princípio Conceição era uma santa nem bela e nem feia, que não queria nada e, após se seduzir, uma mulher lindíssima e que estaria até certa em agir desta forma, pois seu esposo a traia e ela aprendeu a não ligar. Nogueira também, ao mesmo tempo em que compartilha das suas idéias com o leitor, ele também compartilha as suas dúvidas sobre a sedução ou não. E são nessas horas de dúvida em que ele, por respeito e pela moral (inclusive pela sua religião), tenta se convencer do contrário e a fugir de qualquer comprometimento dele com uma mulher casada, ter um romance proibido. Conquanto, convencendo também o leitor de que um romance entre os dois não ocorreu e que isso tudo poderia ser apenas um impressão de sua parte. Ou também, quando ele a visto bela acaba até cedendo a uma possível sedução, ele também convence o leitor de que isso seria até bacana.

A memória proporciona uma certeza do evento, o narrador dá a hora, dia, lugar, descreve muito bem o ambiente não deixando dúvida alguma sobre a sua ocorrência. Ele é tão detalhista que chega até a passar informações sobre personagens secundários lá presentes, sobre o ocorrido posteriormente e até o fim que levaram as personagens após a sua estadia na casa. Enquanto a memória Nogueira é certo e objetivo! A dúvida fica mesmo no psicológico e no decorrer do tempo que se confunde como já dito, entre psicológico e cronológico.

O enfermeiro



Como na Missa do galo, neste conto Machado também utiliza a narração em primeira pessoa de mesma forma. Só que nesta vez ainda mais fundada no psicológico do personagem e seu medo e culpa. Como também ocorre na Missa do galo, este também se inicia como/com uma confissão, só que este, como se fosse uma confissão a fim de se livrar da culpa, uma confissão de fim de vida, daquelas que a pessoa faz para ficar religiosamente sem nenhuma questão a se resolver em terra. A questão do tempo é tão incerta que nos dois primeiros parágrafos o narrador diz que poderia contar a sua vida toda, mas ele não possui tanto tempo e papel assim. Ou seja, o tempo é extremamente psicológico.

Enquanto a relação narrador/leitor em O Enfermeiro o narrador é ainda mais persuasivo e muda de opinião conforme o texto muito mais acentuadamente do que na Missa do Galo, onde no final Nogueira termina por ignorar toda questão e continuar a achar que isto tudo se passou e nada na vida dele mudou após o fato. Em O Enfermeiro Procópio se espanta e se sente culpado de imediato ao assassinar Felisberto, no entanto mais tarde ele começa até a achar que foi um bem ele ter o matado e que ele morreria mesmo após alguns diazinhos. Aí novamente encontramos aquela retórica de convencer o leitor e a si mesmo.

Sobre a consciência, Machado coloca neste conto a disputa entre o bem x mal, o sentimento de culpa, os mecanismo de defesa, o psicológico e a retórica. A moral da sociedade é colocada em jogo e a todo tempo o narrador tenta convencer o leitor que o assassinato de Felisberto foi um bem e que com isso muitas pessoas se fizeram deveras felizes. Com o grande número de elogios recebidos por ele. Mesmo assim, ele tentava manter as aparências devido à grande herança que ele recebera do velho, para que ninguém percebesse nada, construiu até mesmo uma lápide em homenagem a ele. Em um momento ele até chega a achar que o coronel era bom, e que ele foi o circunspecto, mas após conversar com a população local já muda de idéia, porém ainda, pede para rezarem uma missa em nome do velho a fim de se manter uma aparência, como dito.

Com tudo, Procópio limpa sua mente e convence todos os leitores sobre sua inocência. A memória neste conto não é tão certa quando na Missa do galo, ela vai de acordo com as lembranças e opiniões de Procópio. Não é tão certa quanto à de Nogueira. Com isso, nós não ficamos com a mesma certeza sobre o que Procópio diz, contrariando Nogueira que diz data, hora, local, tudo bem especificado. Por isso, a confiança que o leitor passa a ter sobre Procópio já é menor, fazendo com que ele passe até a julgar o até dele. Em todo o momento as únicas informações que temos são de Procópio. O conto é totalmente tendencioso quanta opinião, além de ser em narrado pelo personagem, o tem na parcialidade.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sobre o projeto SSS

-Texto enviado ao meu ex-professor Paulo Henrique



Na escola muitas vezes fazemos muitos trabalhos. Muitos deles produtivos, outros não. Em sua maioria não chegam lá a ser algo muito utilitário em nossas vidas. No final de dois mil e seis eu já estudava no CEFET-SP. Meu primeiro ano do ensino médio, primeiro ano na federal e apesar de estar de conselho, eu tive a oportunidade de escolher um entre cinco projetos para ser estudado no ano seguinte. E foram nas aulas de biologia do professor Paulo Henrique que eu decidi qual projeto faria. Sempre me interessavam as aulas de biologia, pois o professor sabia muito bem fazer associações e analogias que levavam a matéria para um âmbito menos abstrato da matéria, foi quando eu soube que um dos projetos seria o SSS – Saúde, Sabor e Saber; cujo mesmo seria ministrado pelo professor de biologia. Enfim, após pensar muito eu decidi que faria SSS, o projeto que abordaria entre tantos outros assuntos, a alimentação como maior foco.



Nesse ano de dois mil e seis eu fui sortudo, ao contrário de dois mil e sete. Os professores foram mais justos e perspicazes ao ponto de me aprovarem de ano mesmo tendo algumas pequenas dificuldades disciplinares, coisa da idade também, que me colocavam mais atrás em matérias como matemática e física, as que demandavam muito mais que disciplina. Passei de ano, e algo que sempre me alegrava era saber que, mesmo com sono, chegaria à escola e poderia aprender coisas muito úteis e interessantes nas aulas de SSS durante as terças e quintas. Eram aulas de sociologias sobre como se deu a evolução do homem, sempre com a alimentação em foco. Aprendemos que uma das coisas que mais moveram a evolução, não só do homem, como de todos os seres vivos, foi o fato de eles competirem por uma nutrição. Aprendi que todos os sentidos e todo o corpo são projetados, em um todo, para a sua nutrição e para que o ser portador desse corpo possa correr atrás de sua nutrição. Vimos o que é a nutrição, os alimentos, a importância deles, do que eles são formados, o que essas substâncias passam em nossos corpos para que adquiramos sustento através desses compostos. De onde vem o alimento que consumismo, aprendemos muito sobre a indústria alimentícia, sobre a pecuária e seus problemas, o vegetarianismo (algo que até eu adotei por um tempo), os problemas ambientais relacionados a alimentos, a agricultura, alimentos orgânicos, entre outros... O suficiente para fazer deste ano algo descente para minha vida e de meus colegas ali presentes, acredito eu que esses colegas que passaram de ano não aproveitaram tanto quanto eu este projeto.



Agora sobre aquele trabalho da historia e origem das bebidas mais consumidas em nossa sociedade. Foi um trabalho proposto no terceiro bimestre. O professor nos dividiu em grupos e nos deu, para cada grupo, uma bebida para pesquisar toda a sua história, do que ela é feita, se é benéfica, maléfica, quais efeitos no corpo ela proporciona, de onde vem, como foi descoberta... O meu grupo foi encarregado do café. Mas houve que eu me lembre: Vinho, chá, destilados e cerveja. Pode estar faltando algum. Depois que os grupos já houvessem pesquisado, eles seriam espalhados pela sala, onde cada membro do grupo que estaria apresentando passaria de grupo em grupo explicando sobre sua bebida. A nota seria dada por aqueles que estivessem assistindo a apresentação e o professor também faria sua parte vendo todos por um geral. Seria um modelo muito intimo de explicar tal matéria, como uma conversa entre amigos. Víamos nos olhos do aluno que apresentava, se ela estava ou não preparado. Ou nos empolgávamos com aqueles que tinham a matéria na ponto da língua, era algo bem descontraído. Sobre as outras bebidas eu não me lembro muito, por não estar aquele ano esbanjando da melhor concentração do mundo. Lembro coisas ou outras, que o chá veio da China, que o rum foi feito no caribe e que era extremamente importante para os marinheiros, que a cerveja vem desde a antiguidade. Sobre o vinho eu já sabia tudo antes da apresentação. Mas sobre o café eu me lembro de tudo! Como se fosse ontem que eu pesquisei. E jamais esquecerei tão cedo. Pois, a cada dia que bebo café eu me lembro das aulas de SSS, que mudaram muito minha forma de pensar sobre a vida, algo que infelizmente, não ocorre em tudo na escola. E apesar de tudo que eu aprendi e todo amadurecimento adquirido por ter repetido o segundo ano, este ano seja eternamente um pesar para mim e uma parte triste de minha juventude. Mas, enquanto as aulas de SSS, e o trabalho do meu (por mim algo que nomeio àqueles que são muito mais do que profissionais pagos para ensinar) mestre Paulo Henrique, delas eu não tenho o que reclamar, pelo contrário, sou eternamente grato.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ilha das Flores

Outro documentário mais do que essencial! Eu o assisti sábado retrasado no canal Brasil e o Luiz Vedovello me falou sobre ele também no ultimo post.

A ilha das Flores - escrito e dirigido por Jorge Furtado e lançando no ano de 1989. Documentário que aborta diversos problemas sociais, como: A falta de saneamento básico, má distribuição de renda, consumismo, desperdício de alimentos, racismo... etc... Tão abrangente que é até difícil de contar a magnitude de assuntos abordados. Aquele tipo de documentário que assistimos na escola (algo que eu fiz na minha quinta série com este documentário, acho) e leva os professores e alunos a debater por horas e horas cheios de interesse! Deveras pedagógico ele. Irônico. E nos leva a refletir sobre como é findada a nossa sociedade, e o quão ridícula e simples as vezes ela é e nós mal percebemos. O documentário é cheio de bom humor devido a infantilidade que o narrador usa para descrever os fatos. Mas essa simplicidade simplesmente se transforma em algo impressionante no decorrer do curta, conforme nós vamos nos deparando com o clímax e o mote central a"Ilha das Flores", ou até mesmo certos assuntos como o "Holocausto", fim único do documentário que abordou tantos outros assuntos antes só para atingi-lo.





Dividido em duas partes no You Tube.
Mas para quem quiser consultar o site do filme, ele está disponível gratuitamente para download em vários meios.

No wikipedia há algumas ligações para sites com várias informações a respeito.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Beyond Citizen Kane - Muito Além do Cidadão Kane

Um dos melhores documentários que eu já assisti. Produzido por não brasileiros, para brasileiros(os seres que cortam madeiras cor de brasa), mesmo que não fosse a intensão dos produtores . Brasil - Muito Além do Cidadão Kane (1993) - Por Simon Hartog. Produzido para o Channel Four Britânico e não para a BBC como muitos dizem. Documentário atualmente e desde o seu lançamento censurado e proibido. Com a participação de Chico Buarque de Holanda. Washington Olivetto. Entre outras personalidade intelectuais de nosso Brasil. Contextualizando a história da TV por nossas terras. E a construção do império chamado Rede Globo. E toda a sua articulação política promovida por Roberto Marinho desde os tempos da ditadura militar! Algo que manipulou durante décadas a população e ajudou também a construir a descaracterização cultural do Brasil. Sem citar as outras redes de TV que conseguem ser piores 10x que a rede globo só que comercialmente, também, 10x em menor escala. Provando que TV aberta no Brasil é algo, nada mais, nada menos que, lamentável.

Documentário de caracter obrigatório para todos brasileiros!

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/08/260569.shtml

http://criticanarede.com/kane.html

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp1507200392.htm

Textos interessantes sobre a censura do documentário, entre outros.

"Banimento no Brasil

O filme seria exibido pela primeira vez no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro do Rio de Janeiro, em março de 1994. Um dia antes da estréia, a polícia militar recebeu uma ordem judicial para apreender cartazes e a cópia do filme, ameaçando em caso de desobediência multar a administração do MAM-RJ e também intimidando o secretário de cultura, que acabou sendo despedido três dias depois.

Durante os anos noventa, o filme foi mostrado ilegalmente em universidades e eventos sem anúncio público de partidos políticos. [1] Em 1995, a Globo tentou caçar as cópias disponíveis nos arquivos da Universidade de São Paulo através da Justiça Brasileira, mas o pedido lhe foi negado.

O filme teve acesso restrito a essas pessoas e só se tornou amplamente vistos a partir da década de 2000, graças à popularização da internet.

Distribuição e o fenômeno Internet

A Rede Globo tentou comprar os direitos para o programa no Brasil, provavelmente para impedir sua exibição. No entanto, antes de morrer, Hartog tinha acordado com várias organizações brasileiras que os direitos de televisão não deveriam ser dados à Globo, a fim de que o programa pudesse ser amplamente conhecido tanto por organizações políticas e quanto culturais. A Globo perdeu o interesse em comprar o programa quando os advogados da emissora descobriram isso, mas o filme permanece proibido de ser transmitido no Brasil.

Entretanto, muitas cópias em VHS e DVD vem circulando no país desde então. O documentário está disponível na Internet, por meio de redes P2P e de sítios de partilha de vídeos como o YouTube e o Google Video (onde se assistiu quase 600 mil vezes).

Contrariando à crença popular, o filme está disponível no Brasil, embora em sua maioria em bibliotecas e coleções particulares.

Livro

Quando era funcionário do Museu da Imagem e do Som de São Paulo à época do lançamento do documentário, Geraldo Anhaia Mello havia promovido exibições públicas do mesmo. Quando soube, o então secretário de cultura da cidade de São Paulo Ricardo Ohtake proibiu as exibições, com a alegação de que a cópia do acervo era pirata. O pedido de proibição veio de Luiz Antônio Fleury Filho, então governador do Estado de São Paulo. Mello cuidou de fazer cópias do documentário e se encarregou, juntamente com outras pessoas, da dublagem e distribuição. O livro, que veio logo depois, se trata de uma transcrição em português do roteiro e das entrevistas, exceto alguns trechos de entrevistas de rua ou cenas do acervo da Globo. Os trechos não-dublados no vídeo estão presentes na transcrição."

Retirado do Wikipedia.



Primeira parte do vídeos.

Temos ele completo dividido em quatro partes no Youtube ou no Google Videos.

Mas entrando no wikipedia, temos as ligações para baixa-lo completo e dublado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Férias Misteriosas no Inferno

Tínhamo-lo e sua amada. Imaginem um cubo branco. Oco por dentro. Esse era o mundo que ambientava esta história. Os dois caminhavam e caminhavam. Sem rumo certo. O caos à frente. Ele, que eu não sei o nome, aparentava estar mais amedrontado que ela, que eu também não sei o nome. O aperto das suas mãos era o único conforto que os mantinha em rumo. Neste ambiente não havia oxigênio. Não havia realidade. Não havia nada e nem ninguém. Só os dois, seguindo à diante. Sem nenhuma certeza. Só com a esperança de chegar a algum lugar. Lugar algum. Para quem sabe, viverem novamente como sempre viveram, como dois amantes felizes. Palavras chorosas e sentimentais, daquele que busca forças na amante, fazendo dela uma nova mãe, a mulher de sua vida. Ele homem que sempre se mostrou controlador, forte, daqueles que nem o pior dos líderes consegue controlar agora segurava na mão de sua amada fortemente, sendo guiado por horas e horas e horas, cansado. Querendo desistir... – Amor, não agüento mais, por favor... O que fizemos para merecer isso? O que? O que? (Chorando) Por que temos de andar e andar sem rumo algum, até onde isso dará? – Acalme-se gatinho, a gente consegue isso, eu tenho certeza que da misteriosa forma que chegamos aqui, algum dia sairemos, sei que já se faz um mês que andamos e andamos e nada, mas alguma hora! Sim! Quem sabe? Fica calmo! Por favor! Lembre de tudo aquilo que você me disse nos primeiros dias – Os dois trocavam certas palavras de consolo, mas ultimamente... As coisas para ele, que nunca foi dos mais fortes mesmo com o tipo, agora desistia.

-Mas é que esse branco. O branco, e todo esse tempo. Sem comer e comer. Já avistamos aquela fenda já faz dias e nada, nada de chegarmos lá... Nada.

E assim prosseguiram novamente. Mais uns dias a caminhar.

E no nono dia. O chão que parecia infinito agora se dividia em dois. A cima de suas cabeças, nesta infinita sala iluminada, as lâmpadas fluorescentes que não se viam agora brilhavam mais fracas. Era uma escada onde lá em cima a muitos e muitos metros parecia chegar o fim. Eram já um mês e alguns dias que misteriosamente eles foram jogados neste mundo. Todo este tempo, sem comer e sentir fome, sem beber e sentir cede. Sem dormir ou sentir sono, era como se fosse à maior danação eterna, umas férias no inferno como ele dizia todos os dias de caminhada a ela. No começo ainda trocavam alguns beijos mais apaixonados, mas agora, esses beijos eram só lagrimas de consolo.

-Quem sobe antes? – Perguntou ele, como se pedisse para ela o carregar para cima.

-Vá você que eu subo depois – Respondeu ela.

O que ela não percebia e o que ele não disse. Ele estava com o maior dos medos. Mas após respirar fundo quatro vezes, tremulo, colocou a primeira mão e seguiu a subir. Subiam e subiam, seus corpos pareciam ter perdido qualquer uma de suas forças materiais. Não cansavam. Foram dois dias de subida incessante. Tantas e tantas vezes sentiu a vontade de largar dos degraus e cair, cair e cair... Fugir de toda essa dor que sem escolher, sem nenhuma explicação sentia e não desejava de forma alguma continuar sentindo. Mas ela, sua amada, era forte, e segurava qualquer uma dessas suas vontades. Coisa que há tempos, ele que fazia com ela, ele que obrigava ela a andar de sua casa até o terminal de ônibus mais próximo, coisa que não durava nada mais ou nada menos que uma hora, mas ele a obrigava, ela de vestido e ele atleta. Obrigando ela a andar. Brigaram muitas vezes por isso. Mas agora a realidade mudara.

Enfim, subiram ao tão esperado topo. No topo, uma bandeira do Brasil balançava lindamente, por um vento que não viam vindo de nenhum lugar.

-São só mais algumas caminhadas até a próxima fenda. Você vê? – disse ele tentando liderar por agora.

-Sim, mas agora, que estranho. Parece que temos que descer um pouco. Você vê uma mancha índigo ao fundo. Parece que a partir desse tom temos mais uma descida, o estranho é, será outra escada?

Andaram por apenas vinte minutos.

-É, chegamos, você estava certa, é outra escada. E bem curtinha. Mas o que será lá em baixo?

A vista era uma queda infinita. Onde, uma pequena escadinha cor de prata, levava para um pequeno quadrado com pouco mais que seis metros quadrados.

-É não há outra alternativa a não ser descer e ver.

Mas ele estava com medo.

-Mas, você tem certeza, como faremos pare descer por esta escada? Ela se suspende para baixo, eu não sei descer por uma escada na vertical, assim, não dá para simplesmente por o pé e descer, teremos que virar as costas. Não. Não sei. Estou com medo. – Disse ele.

-Amor, calma, é fácil vai! Vê se não vai dar um de besta agora que já estamos chegando a algum lugar depois de UM mês de caminhada!

Ela calmamente o ajudou a descer como um pai ensina um filho e se pôs a descer logo atrás. E de longe podemos ver os dois descendo, devagar, com medo, até chegarem a um quadrado. A partir do quadrado, eles puderam ver uma pequena tábua de madeira. Tábua esta que os conduziria até o outro lado de um quadrado, que já mostrava ao longe, rastros de um local urbano, a esperança para eles, eram sons dos ônibus, dos carros, das buzinas, de suas realidades. Abraçaram-se forte. Pois, talvez, após a tentativa de passar por essa estreita tábua, com cerca de quarenta centímetros de largura, poderiam jamais se ver. Amantes de um ano já! Poderiam cair, e ao cair, não saberiam quando se encontrariam de novo, e se isso seria possível. Mas esse um mês de caminhada infinita, os fez sem sentimentos, sem sensações, sem nada de humano que ainda pudesse restar de real, era um abraço artificial, forçado, pois afinal! Ainda se amam muito! Muito mesmo! Mesmo sem qualquer sentimento humano. Um beijo, leve e longo. Seco. Ele dizia que jamais atravessaria aquilo, que não dá! Ele sempre se equilibrou nas guias de ruas, mas agora, não... Não iria de forma alguma. Mas dizia isto com a certeza de que iria, era a única alternativa. Ele parecia um molenga chorando e reclamando toda hora, coisa que ele jamais foi! Mas estava sendo, a fim de ganhar algo de sua amada, eu acho.

Após todo o drama. Ela deu a mão a ele dizendo:

-Vamos juntos. Juntos. Eu pisarei e você irá atrás. Se conseguirmos, só mais uma semana de caminhada. E estaremos em casa, juntos de novo! Para sempre! Como sempre sonhamos.

Um ultimo abraço. E as mãos atadas. Isso o fez lembrar dos filmes de Indiana Jones. Uma pisada. Um sorriso. Um sorriso em resposta. Outra pisada e um calafrio. Estavam já suspensos sob o ar. Outros passos, agora sentiam que conseguiriam sim! E andaram pela tábua. Eles podiam ler um pouco mais a frente, cheios de frio na barriga, até mesmo ela que fora forte todo esse tempo parecia querer desistir. Liam. Logo no fim da tábua. Suspensa, sem nada segurando. Uma plaquinha vermelha iluminada, daquelas de saída de emergência. Escrita de branco. Saída. Essa placa parecia ser um anúncio para a morte de ambos. A placa que os conduziria para o fim eterno. De repente, ele... Se vendo sob esta situação perde ela de suas mãos, ele perde ela de vista. Era agora somente ele suspenso sob essa tábua. Sozinho, aonde fora parar seu amor? Cadê? Porque ela sumira? Por quê? Ele só conseguiu tudo isto por ela!

Aquele frio na barriga novamente, o corpo mole. Mole como nunca estivera. Tremendo. Ele disse a si mesmo que não desistiria nunca! Iria prosseguir sim, mesmo com o sumiço dela! Mas ouvia a voz de sua amada em um lugar que não sabia aonde, ouvia suas suplicas! E não conseguia identificar as palavras! Ele caiu de lado, como se perdendo o controle do corpo todo. Caia e caia. Vendo tudo a baixo de si girando e girando e girando. Agora podia sentir o vento que balançava a bandeira de sua pátria amada em seu rosto. Caia e caia. Sob uma velocidade que nem ele sabia. Todas as suas vísceras pareciam ter se desintegrado devida ao frio interno e toda sensação de explosão goela a baixo.

E ela se encontrava abraçada com ele, mais tarde, após a queda. Em um banco de praça sob a cidade de São Paulo. Os dois, sorrindo. Alegremente um para o outro. Fortemente! Agora estavam juntos de novo! – Eu te amo mais que tudo – Dizia ela – Eu também meu amor! Mais que tudo neste mundo, conseguimos, conseguimos, agora seremos mais felizes do que nunca! Só nós! Conseguimos, estamos aqui de novo! Que lindo! – Respondeu ele. Até o momento que uma jorrada de tiros de metralhadora veio próximo a eles... Uma jorrada... Gritos e mais gritos... Pessoas mortas... Seria este o fim?

As coisas se revelaram a ele através dum sonho, numa fria e fechada tarde de setembro. Quando a primavera não se revelou das mais inspiradoras. Aqueles dias que acorda e já sabe a depressão que se encontraria por todo o seu estar durante o passar das horas. Nada mais resolveu fazer do que dormir. E dormiu. Dormiu sem pensar nas conseqüências, ou nas obrigações que deveriam se suceder. Por passadas lentas e olhar moribundo, seguira pela guia da rua que morria em sua. Desligara-se da música que o acompanha sempre pelas jornadas escola-casa e casa-escola. Desviara das fezes animais e se emocionara quando viu um pequeno e belo gato pedindo carinho a ele. Lembrou do seu gato o esperando por uma felícia. Mas voltando ao sono. Ele dormia faminto. Entorpecido das drogas matutinas. Coberto por um amontoado aconchegante de edredons e cobertores, esquentando seu corpo ao ponto da sudorese. Seu gato fugira dele. E ele capotava sobre a realidade do sono e sobre a falsidade da vigília. Os sonhos.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Blog mais do que preparado!

Seção dedicada ao "O Pascholatti": O texto a baixo é sobre o blog novo que eu criei com a Camila! Cujo o endereço está no fim! Obrigado, a partir de agora postarei aqui e lá!

Enfim, agora... Depois de um tempo a me dedicar com a não escrita de nada, nada mesmo... Enfim três semanas, no total, creio eu. Resolvi dar um basta nas faltas de postagens diárias que eu não fiz, ou fiz, seja lá a opção. O projeto é simples. Eu e minha companheira. Camila Paula de Souza, vulgo, Camila... Ou mina do Pascholatti, minha mina, minha namorada, não a minha peguete, ficante e muito menos a mina que eu como. Enfim. Uma cena. Lucas, ao telefone, quarto, cores espalhadas por um chão de taco marrom escuro, colocados como retângulos simétricos e diagonais pelo chão, tacos já desgastados pelo tempo. Ele, não me recordo sua (3a pessoa do singular) roupa, conversava andando pela falta de espaço engendrada por si mesmo ao longo da semana, sim, ele mantinha movimentos com as mãos simulando golpes de Kung-Fu, creio que era sexta-feira, ele voltara de seu treino. Coisa assim, conversa banal, conversa abafadora do afago e desejo mútuo, não a paixão, do pathos grego, doente... O desejo, o anseio... Abafados pelo telefone, a sonoridade da voz! Eles haviam se visto pela tarde, longa tarde... Uma bolsa de água quente, abafa a perna de Lucas... Prazer da dor e da recuperação... Fome, fome... - E eu nunca mais postei no meu blog? - Raio! Veio aquela idéia espontânea que uns encéfalos chamariam de Insight - Que tal fazermos algo nosso? Sabe? Nosso, que possamos escrever coisas pequenas, simples, e nossa! Coisas minhas e suas em um só lugar, assim as coisas serão mais atuais! E o incentivo então? - Nada do que falara foi bem assim , mas, por alto, digo que foi assim. E isso, basicamente, é o que aconteceu com ele.

E estou tendo a dificuldade de projetar uma narrativa, gênero de conto, com três personagens no mínimo... No conto temos um conflito... Porra de conflito, e acabei de escrever um conto aqui! E o que farei para escrever o que necessito, ou sou obrigado - Devo tomar cuidado em falar de escola como obrigação perto da Floripes - Ela não gosta! Enfim, escrevi agora, mas não sei escrever depois, não sei do que falar, bloqueio mental total e absoluto, nem tanto. Pincelando aos poucos, quem sabe chego lá mais tarde? Três páginas, três personagens, conto... conto... conflito, começo, meio, fim... conflito rápido! Droga, droga... Sem enrolação, SEM, SEM!

E me inscreverei para a mostra de literatura com o poema... Deixa eu confirmar o nome que dei a ele... Ehhhhh....

http://pascholatti.blogspot.com/2008/06/asceno-perante-existncia-filosofias-e.html

Ascensão sobre a existência (filosofias e teoremas sobre o sentido da vida)...

Pretendo me inscrever amanhã.

Se tudo ocorrer como pretendo. Enfim, só isso mesmo.

Abraço!

P.S:O blog novo se chama. Estro Estrambótico! Cujo título é - Por és-não-és. Livre interpretações.

Endereço:

http://estroestrambotico.blogspot.com/

O nome e o título são idéias da Camila! Que fez uma lista gigante, cheia de opções o nome, no domingo, talvez nos falamos no sábado e não na sexta! FOI NO SÁBADO, a narração de cima está errada, mas tudo bem, o que achei na hora, não corta o sentido literário do texto... Lembro que nos falamos na hora do almoço... Já é outra história, mas o ambiente e local e motivo eram os mesmo... Ahh, então, ela veio aqui... E me mostrou tudo, decidimos tudo e fizemos, ontem terminamos os preparos...

P.S.S: Para quem tem o Age of Empires 2 - The Conquerors e quiser jogar via Multi Jogadores eu e a Camila estamos dispostos, ontem eu e meu irmão jogamos com o caro Senhor Gabriel Cruz.


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Eleição de 2008 & Amar, Verbo Intransitivo


Após o debate da quinta-feira, resolvi dedicar um espaço sobre isto no meu blog. Já que não ando escrevendo nada mais nos quadros da literatura. Não tardar, gostaria também de receitar aos leitores, em média uns sete por postagem, Mário de Andrade jugou ter 50 (51 com ele) em Amar, Verbo Intransitivo, Machado de Assis bem menos em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Lembrando a narração confusa e ambígua do Modernismo expressionista nacional venho dizer que um ótimo livro eu li! De capa marrom e mulher sorridente, com unhas vermelhas e bela feição tem a baixo de sua moldura um título, moldura pequena eu diria, Amar, Verbo Intransitivo. Autor Mário de Andrade... Expressionista... Modernista... Diria que o livro é centrado em uma heroína chamada Elza ou Fräulein dependendo do ponto de vista, personagem ou narrador? Disputas... Homem-do-sonho X Homem-da-vida... Um livro tão confuso quanto O Teorema de Pasolini... Mas dono de uma das mais belas narrações idílias que já li! Não se foca somente no idílio romântico, mas corre para as periferias da crítica presente! O citoplasma, composto de tudo! Tudo! Que deixa o leitor delirando sobre cada frase e cena retratada expressionalmente, cada sentimento, cada NIETZSCHE que o autor escreve sobre os parágrafos, cada... TUDO!... Um livro confuso, sem divisão de capítulos, sem muitas vírgulas, moderno... Freudiano, psicológico... Filosófico... Paulista... Sentimental... Mostrando que o amor e para se amar... Gostamos de amor, então amamos... Intransitivamente! Já vim lendo de tudo antes do Modernismo nacionalista e antropofágico da década de 20 do séc.XX... Mas nunca vi algo tão bem formulado e bem redigido, MARAVILHOSO! Envolvente como este de Mário de Andrade...

Enfim... Enquanto a política... Não pensei em nenhum ponto marcante nem nada. Porém aquela série: Quem quer ser prefeito? Do CQC retrata muito bem os melhores candidatos, em partes. E não acho nada melhor para divulgar a democracia do que auxiliar aqueles perdidos até hoje sobre as eleições municipais do que adicionar o vídeo do - Quem quer ser prefeito?.



Para quem quiser ver o debate da Band:

http://br.youtube.com/results?search_query=debate+2008+S%C3%A3o+Paulo&search_type=

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Inutilidades & Utilidades


Lifeform Used for Calculation and Accurate Sabotage


Get Your Cyborg Name



Lethal, Unholy Creature Addicted to Spite


Get Your Monster Name


Lover Undertaking Carnal Arousing Stimulation


Get Your Sexy Name



L.U.C.A.S.: Lethal, Unholy Creature Addicted to Spite

L.U.C.A.S.: Lifeform Used for Calculation and Accurate Sabotage

L.U.C.A.S.: Lover Undertaking Carnal Arousing Stimulation

Estava eu no MSN quando repentinamente meu amigo Luiz Fernando me mandouo link do Cyborg e depois achei os outros.

Achei muito cômico! Lifeform Used For Calculation and Accurate Sabotage. Resolvi adicionar por aqui, enfim, algo que seja mais "comercial" no meu blog, que chame mais atenção dos usuários, em vez dos meus escritos feitos de sangue. Espero que nesta volta às aulas eu adicione mais coisas por aqui, nem que sejam posts (ainda procuro uma tradução válida para esta palavra) mais simples para manter este projeto em andamento, com todos seus objetivos.

E uma indicação de um filme.

http://fr.wikipedia.org/wiki/Le_Frère_du_Guerrier

Le Frère du Guerrier - Título Original. Em português chama-se "A volta do Guerreiro". Assisti no Tele Cine Cult. Muito bom, um filme passado na Idade Média, séc. XIII. Um rapaz perde a mãe prometendo a ela se transformar num herbalista em seu leito de morte. O trama se desenvolve quando ele apanha de uns bandidos e sofre de amnésia com isto, seu irmão, um guerreiro, acaba voltando por isso e acaba se envolvendo com a sua esposa. Um ótimo filme! Merece ser visto, é apresentado com uma grande realidade em sua contextualização na Idade Média. O clero, a burguesia em ascensão, as batalhas... Enfim, tudo. Ótima interpretação! Um ótimo filme. Procurei este pelo Making Off mas não achei links para baixá-lo, porém no eMule provavelmente podemos o encontrar.

Sem mais...




Retirado de: O Pascholatti 26 de Julho de 2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Matrix


-... Tu andas em perigo. Trouxe-te aqui para alertá-lo.
-De que?
-Eles estão à tua procura.
-Quem são eles?
-Por favor, escute apenas. Eu sei o porquê estas aqui. Eu sei o que você anda fazendo. Eu sei o porquê você quase não dorme... O porquê tu vives sozinho e o porquê, noite após noite sentas sobre o teu computador. Procuras por ele. Eu sei, porque eu já procurei pela mesma coisa. E quando ele me encontrou... Disse-me que eu não estava o procurando... Eu procurava por uma resposta. É a pergunta que nos move. E essa pergunta é que te trouxe aqui. E tu sabes a pergunta, assim como eu.
-(pergunta)?
-A resposta esta lá fora. Procurando por ti. E vai te achar... Se quiseres também.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Silly Ode In English (The first one I guess)

Expressionless I get
Like things we hear in debutants parties
Explaining about connections in the world we live
Laying down on beds which aren't gorgeous
Stressing out muscles and rice on dishes to make
Loving to smoke on time to study
Having good chats before supper's time
Discussing the meaning of life
And living a significant life to ourselves
Nothing more to write
Nothing more to utter about
Nothing more to state in words
Those words which we don't own
Expressionless I get
Like things we hear in debutant parties

sábado, 14 de junho de 2008

Ascenção perante a existência (filosofias e teoremas sobre o sentido da vida)

Uma colina com simples degraus
Aqueles de minha infância
Eu era uma tabula rasa
Manchada de poucas cores
Pelo pouco que vivi
Que vivo

A guia e todos os degraus desalinhados
Como uma torta reta
Quase curva
Pintados todos eles de tinta branca
Desgastada pelo tempo
A lei do menor esforço
Do menor preço
Coisas que odeio
Passam a encantar os meus olhos

Colinas verdes
Acompanham a escada
Como se ela fosse a coluna
De costas humanas
Que vão do cóccix para a nuca
Subo lentamente

Degrau por degrau
E as árvores mortas não oferecem tanto abrigo
Só a pequena fauna de insetos brilham no nublado
Só as flores humildes contrastam com cores
Passo, passos, respirações lentas...
Já movem meu coração mais rapidamente

O horizonte parece decair
Colinas se mostram mais abaixo conforme subimos
Chego ao alto
Degraus, passadas
Movimento de pernas
Erguendo a esquerda e a direita
Nunca em ordem
Encho meus olhos
Direita e esquerda
Aquele frio que esquenta nessas horas
Aquece a mente e gela o coração

Sou como um projeto
De Castro Alves
Sem espumas flutuantes
Sem nada flutuante
Sem muitas espumas

Defronte
Um pouco de espanto
Um sorriso gracioso
De lado
Insondável
Seria insondável a palavra para o sem som?
É inaudível pensar certas horas
Um bonito cemitério

Charming?
Pleasant?
Quite...

Em colinas abaixo
Lápides brancas, cruzes, árvores mortas
Algo moribundo
Largados sobre as gramas a muito não aparadas
Moacir a morrer
No lar dos mortos
No milenar ecossistema
Agora o silenciaram
Após milênios de crescimento
Frutificação, raízes
Nichos e habitats

“Vita, status plantarum et animalium, est contrarium mortis”
Diz a enciclopédia rápida
Fruto das mãos humanas
Que de sentido vitae
Só tem o fim

Morria o ecossistema
Lá para as sombras
Das rochas vermelhas
Das árvores mortas
A sombra invisível
Que come o fruto dos vegetais
Em que às seivas não entram mais decomposição

Descanso no nublado
No fim da tarde

Chegando ao ápice
Desvendando a gênese da criação
Solucionando o futuro
Cometendo metáforas
Elaborando analogias históricas literárias
Inocento a mãe que dá seu filho
Em troca de sua morta
O Moacir
Iracema é audaz, muito mais
Que Martin, o guerreiro
Colonizador, inocente
America, audaz
Por aqui os que deram seu amor
Sobreviveram
Morreram os resistores
Aculturados
Decepados
Seus corpos viraram quebra-cabeças
Misturados com muitos outros
Onde já não encaixam mais peças
Onde as peças são lucro
Orelha
Bagos
Comida
O fim...
O fim dos resistores
Dos bárbaros
Dos pagãos

O sentido da vida
É o fim
O fim é o sentido do vetor vida
Não temos direções neste vetor
É como curvas
Retas
Procuramos o caminho
Achamos-nos
E recuamos
Vivemos por achar a direção do vetor
O vetor vida
Em que seu sentido tem só um
O fim
Tentamos impor-lhe uma intensidade
E não sabemos por que
Só recebemos resultados
E o comprimento vetorial corta nossa função
E nada mais tem sentido para nós
Nada

Olhamos ao céu
Milhões e milhões de estrelas
Galáxias
E nós
Nada
Nada
Nada
Lixos

A vida não tem sentido no final de tudo
Não há sentido em saber o sentido
Nem a direção
Nem o porquê do além do homem
Nem o porquê das civilizações
Do poder
De toda existência
Se temos sentido
Este é o fim
Nada mais além do fim
Alguns o encurtam em direção
Achando que assim a sua intensidade é maior

Outros o prolongam
E suspiram cada milímetro até o fim
Sem regozijo
E ao final de tudo
Por que mais tempo?

Outros equacionam o vetor
Para dar trabalho
Trabalham
Trabalham
E geram joules e joules de energia
Que no final
Dissipam-se e para onde todo este trabalho foi?

Outros não sabem de nada disso
Começam
E terminam
E nem sentimos tanto a suas presenças
Nada demais deixam
Alguns nada deixam
E levam junto um pedaço de nós
Sem sabermos

Outros destroem tudo
Investem na intensidade
Consomem de tudo em volta
E encurtam toda a direção
Denigrem o sentido do sentido
Os piores tipos...

E tem os que respeitam o sentido
Sabem manejar a direção
Artesões incomparáveis das direções
Arquitetando a intensidade
Intensificando o vetor
Por influenciar tudo
Intensidade
Direção
Sentido
Tudo junto
Sempre a seguir o caminho ao sentido
Sempre caindo em direções
E ao além do homem talvez
Chegam
Mas isso nunca acontece
E os além homens se escondem
Ou não existem
Ou não são páreos
E suas vidas viram tentativas
Do melhor tipo de vida
Algo metafísico
Por saber do sentido único
Só eles sabem
Só os além homens
Sofredores
Os verdadeiros homens
Que vivem e morrem
E deixam pegadas
Vestígios

Assim nossos vetores caminham
Ao fim
Sem sentido
Afinal...

E meus passos já são inexatos
Infinitos após tudo
Horas e horas e horas
E o tempo é só o tempo
Tudo tem tempo
Não fugimos dele
E filosofara eu por horas
E horas
Pisava em gramas escuras
E cuspia metáfora
Fazia inimagináveis teorias do caos
Da vida
Analogias
Transcendentais mais que reais
Atingia conscientemente meu ápice
Subia as colinas
Para o pico
O meu clímax
Orgástico
Eloqüente

Sentia cada parte do meu corpo
Dominava cada átomo
Desfrutava do melhor de minha saúde
Suava narcóticos
Em jejum
Perseverante
Como se meu corpo estivesse em transe
Uma transa com o universo
Sentia minha relação sexual intensa
Com a existência
Com tudo que via
Que sei
Aproveitando de cada som
Cheiro
Visão
Toque
Paladar

E sentia o prazer
Fodendo a vida
Transando com tudo que conheço
E semeando
Em seu ventre
Uma tentativa de reprodução
Sentido único da vida de nossos genes
O chefe de nosso ADN
Sentido único e biológico da vida

Esperava que isso se tornasse social
E mexia com a linguagem
Cheirava filosofia
Minhas teorias
Imaturas
Mas teorizava o que no final
É apenas gênero do conhecimento
Não conhecimento
Não há conhecimento
Isso não existe!

Nada existe
Vivemos a irrealidade
Vivemos o que é falso
A vida não existe no final das contas
Nada existe
E nos alegramos ao saber disso
E vivemos por saber disso
Talvez sejamos nós os inventores da vida
E quanto mais sabemos
Mais vivemos

Sinto a vida
E por isso vivo
Não por que penso
Por que não penso
Eu vivo
Não pensamos
Vivemos, logo existimos

Montes artificiais
Feitas por mão armadas
Armadas de tecnologias
Rudimentares
Terra após terra cavada
Escavava corpos
E mais colinas sobre os meus pés eu sentia

Agora
Nos montes andavam pés vivos
Vida, novamente
Ilusão
A melhor das criações humanas
Só átomos e matérias existem
Que no final
Sabemos que não existem
É tudo mentira
Nem o Yin nem o Yang

Os meus pés diferem dos pés mortos
Por que, apesar da matéria
Ela existia ordenadamente
Em sistemas compostos
Em trabalho
Trabalho intensifica a vida
Põe-nos energias voláteis
O meu sistema ainda tinha energia
Energia reposta todos os dias
Até o tanque se encher
Ficar de saco-cheio

Um homem pensando no passado
Já era noite
O que se passará além colinas?
O que se passara cá colinas?
Guerras? Pragas?
Foram os presentes mortos gente?
Destruidores apenas?
Consumidores apenas?
(Se isto existia no plano do que é existe para os homens donos daquelas mortes)
Donos de meros passos da evolução positivista humana?
Donos de passos como os meus?
Pelas colinas...?

Devagar, sem rumo...
Inconcluível
Ser iluminado
Este sim dá passos
E sabe da não existência de passos
Do ta lento dos mortos
Do ta lento dos vivos
Dos poucos capazes do título de homens
Nobres!
E do grande número de pobres servos
Que nada fizeram/fazem por isso
Dos nobres irreconhecidos
Dos servos conhecidos
Dos nobres rejeitados
Dos servos admirados
Dos sociopatas como martela meu amigo
Realmente ele está certo
Só damos diferentes nomes às coisas

Ao longe
Um homem anda
Como qualquer homem
E ninguém vê
Ninguém sabe da sua vida
Da sua existência
Até mesmo ele se questiona de tudo
E vive por questionar
Por tudo aquilo que pensa
(vide estrofes anteriores)
Raro homem
Homem
Mais que um corpo andante sobre o horizonte
Sem trégua, nem futuro
Para o inferno manda o futuro!
Objetivos subjetivos
Ideais objetivos
Esquecidos objetos sobre o caminho
Não tem objetivo afinal
Sobre passos
Nas gramas verdes
Acha objetivo
E perde novamente
Nas gramas à noite negras
No incolor reluzente da lua
Desaparece

Agora ele está longe
-Para onde vais? Gritar-lhe-ão
Para onde vai ele?
Homem
Novo homem
Homem do século vinte um
Que anda escondido
No escuro das mortas colinas
Cinzentas
De pedras
Escondido no verde que ama

Administrador inconsciente
Inatuante
Da evolução, destruição
De eras, fases
Provavelmente atingirá o fim
Morrerá em colinas semelhantes
Deixando rastros
Sem sentido
Sem, porém
No vácuo do universo
Da não existência
E não existirá mais
E nada mais teve sentido pra ele
Deixando o sentido com outros
Que também não haverão de ter sentido um dia

Ele vê pegadas sobre as colinas
O medo num punhado de pó
O abrigo da árvore morta
A sombra da rocha vermelha
Ou colunas
Que começam no cóccix
E terminam na nuca
Não o vemos mais
Só a lua, as colinas, a natureza-morta
Literalmente morta
Lápides e seus rastros
Claros rastos sobre o escuro
Como pinturas de Caravaggio
Lápides e pegadas
Homem
Nobre homem
Do século
Do século de agora
Rastros do homem
A fugir sempre
E se encontrar
Colinas... após colunas...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Minha epopéia, ascenção e queda perante São Paulo


   

   Uma terça feira comum e obrigaram-me geniosamente a narrar São Paulo, enfatizando sua magnitude. Achei-me nocauteado ao centro da sala de aula, pessoas falando como zumbidos átonos em meus ouvidos, o quase sistema mal elaborado no espaço que me situava, as rodas em um todo giravam pelas dez da manhã, as luzes acesas, eletricidade, o barulho enlouquecedor, o sol lá fora brilhava lindamente, sendo que ao redor tudo lembrava sujeira e desordem. Nós paulistas nos alegramos perante a isto, cultura, noites boêmias, prédios, sujeiras, luzes, poluição de todos os tipos, rodas da vida, rodas e novamente a energia, milhões e milhões e trilhões de átomos, vinte e quatro horas ao dia! Por dentro gritava alegre, triste, perturbado, as duas pontas de uma faca me perfuravam garganta abaixo e acima... Tudo, uma dialética viva. Os proibidos pontos negativos me sacudiram rudemente conseguido de desespero, enquanto isso os cátions (os íons, ou pontos positivos, seja lá sua preferência) de São Paulo moviam minhas mãos a escrever absolutamente nada, nada mesmo. Sentia-me confuso, mui deprimido, fatigado, minhas costas doíam como se a dor fosse as algemas d’um inocente preso. E minhas mãos se moviam continuadamente sem nenhum compasso, como engrenagens enferrujadas em uma indústria falida.

   Vivo em algo vivo, vivemos assim, realmente. E não há melhor adjetivo para isto. São Paulo é dona da nossa realidade, a vida em si, um amontoado de vida, um serrado de vida, feita de íons (os cátions e ânions – perdoem-me por toda esta química), soltos em um desenho que se assemelha àqueles contidos nas calçadas centrais. São Paulo, branco, preto, branco, preto, lixo e luxo às calçadas, tudo em cascata, lembro-me das misturas étnicas. Outra antítese com o que me deparar. Já enlouqueci há tempos. Notei-me disto sim, é verdade, faz um tempinho!

   A cada segundo, elementos subatômicos cruzam-nos energicamente em São Paulo (como diz a física quântica), daquela forma que a cachoeira atinge seu alvo de queda. Só que a cachoeira paulistana não é qualquer uma, é muito maior que uma catarata, é imensa! O cálculo de energia agora é joules e joules maiores no expoente de nossa notação científica. Tudo proveniente de toda essa vida, e se temos energia temos trabalho, haja trabalho. Trabalhos de todos os tipos: de história, geografia, sociologia, dependendo da pessoa, muita filosofia, qualquer tipo de trabalho! Rápido, rápido, em um ritmo muito rápido, cheguemos ao alegro desta composição, me perco nesta magnitude e desprendo-me dos pólos opostos desta cidade e desejo correr daqui, para minha casa, lá no horto, na minha ilha tranqüila, “há milhas e milhas de qualquer lugar”, tudo é um, tudo é infinito, tudo é Tao.

   “Temos” a beleza ecológica da mata atlântica, farejada e acolhida pelos nativos e “evoluída” pelos grandes e inteligentes europeus, aqui no infinito caminho, nas matas, respiro as matas, que ilusão, caros paulistanos.

   Sonho, muito, que estou a correr daqui, desta prisão, saindo deste centro que estou, voando sobre prédios, sobre a marginal do denso e belo Tietê, de longe avisto o Banespa, gozo o branco do concreto que desenha o horizonte, rasgo os bairros nas alturas, tudo infinito. Corro para perto do Tremembé, fugindo deste velho truque batota chamado CEFET, muito audaz este. Olho admiradamente, como se neste sonho estivesse novamente por lá, e vejo que nada disto é sonho e sim pura realidade! Defronto com o “Parque Estadual da Cantareira”, me perco propositalmente de minha pesada mochila em um arbusto qualquer, ponho-me a me despir vagarosamente sobre a naturalidade da mata. Corro, corre sem parar, como uma pessoa avistando o mar pela primeira vez, renascendo, corria pela mata, bradando liberdade, liberdade, a paz das matas paulistas, respirava com força e preparava as minhas cinzas de Fênix em lágrimas pelo frescor puro do intocável, renasceria. Corria, saltava, nem ligava por ultrapassar o nicho de seres peçonhentos, não acreditava que estes indefesos eram peçonhentos e sim nós. Sabia o que queria, sabia o meu objetivo e me deixei levar, desta vez minha humanidade me guiou para onde queria, Pedra Grande era-o apelidado local.

   Olho para o horizonte, São Paulo, meu lar enfrentava-me duramente, como um pai repreende o filho rebelde. Via tudo, cada prédio, cada rua, cada traço embaçado no horizonte que meus míopes olhos fitavam, rosnando com cabelos atmosféricos cor cinza para mim. Ser tão vivo, toda aquela vida ali, tantas coisas, tanta gente, brava gente, mentecaptos, malfeitores, nobres de espírito, tudo, o meu infinito - Sou uma célula do seu corpo São Paulo! Nesta personificação séria e mais que real para mim (juro não ser loucura minha ver São Paulo assim), travamos por horas um combate oral e espiritual, onde vencia aquele que mais vida tinha. Era eu Zeus enfrentando Cronos o titã que era São Paulo, lutava para não ser mais um de seus filhos devorados! Lutei, gritei, mas não resisti. São Paulo é muito para mim, ninguém pode com ela. Não fui devorado, dar-me-ia São Paulo, piedosamente a minha liberdade, porém tive de admitir que não fosse nada, apenas um filho revoltoso, admiti sua beleza, admiti também que aquelas matas eram suas matas, que aquilo era ela, sua beleza, e mais uma vez me achei como uma célula qualquer no meio do infinito. Grande e bela São Paulo – Tu fizeste-me aceitar-te, que assim, não precisaria ser mais engolido, forte és tu, São Paulo, dê-me a liberdade de viver em ti, como uma célula livre – Caí ao chão pedregoso, morria agora mais um filho rebelde de São Paulo, nascia outro. O meu sangue fora absorvido pelo seu solo maltratado, abracei seu solo docemente, como uma criança faz à sua pelúcia, sou todo teu São Paulo, apagava-me neste infinito novamente, porém livre e tolerante com ele, o mais forte, São Paulo.