Sua casa, Novo Mundo, adeusQuando o ônibus chegou
Tu estavas lá comigo
Vestia-me comum
Um jeans úmido
Um adidas listrado
De amarelo, azul mas tudo em cinza
Sua blusa em minhas mãos
E nossos pés molhados
Mal nos despedimos
Calça e roupa toda molhada
Assim começou minha primeira rodada
Em garoa paulistana trilha sonora afro-americana
Mas era alternativo inglês na largada.
Observava a vida pela janela - IVigiei gotas das mais refrescantes
De brilho único e sensível
Reparei uma gradiente
Tons de amarelo e arco-íris
Vidro e gotas, paciente.
As lamparinas dos postes
Banhavam e sombreavam
Uma moldura ou filme
“A mais escura e sombria das noites”
Luzes e fumaças de cigarros
Aos becos arborizados
Causa d’um efeito estimulanteAssim trabalhavam ainda
Mente, corpo e espírito
Iam e voltavam como um ciclo
Expira e inspira, enche e esvazia
Coração em pulsação, segundos
Bocejos e inspiração, minutos
Cada nova reflexão, ares poéticos
Assim trabalhavam bem.
Por fora, meu amor
Suas cartas velhas e inúteis
Jamais tocaria nelas, ódio
Suas lembranças do passado
Geram ciúmes não útil
Pensamentos escondidos
Como trovas, cantigas de amor.
Observava a vida pela janela - IIParalelepípedos com quatro rodas
Pintados de azul na frente e branco atrás
Onde em sua diferença tinham o vetor
Entrávamos na frente e saíamos atrás
Sentido, direção e nome, talvez.
(Mudavam)
Casas antigas todas eu via
Mais formosas que as novas
Botequins habitados ou não
Todos sombrios e multicoloridos
Eram poucas luzes presentes em vielas
Escuridão de diferentes e iguais
Banais e um tanto bela.
Quem estava por ali?
O que ali sentiam?
O que faziam aqui?
Ali com que língua falavam?
De onde vieram para cá?
Criava, plantava e semeava em mim
Palavras e frases sem métricas
O mais forte e mais fraco progressivo
Olhava o verde, de escolas e praças
Alternativo ajuda, floreava
O mais charmoso piano e blues
Só nesta noite única, um feriado
Confortável, adequado e apropriado
Diziam Cândido, Pangloss, Voltaire ou Leibniz?
Fundamentação da Sociologia Metafísica dos Costumes Poéticos – Por Lucas (nada de Kant)Tremi mas louvei essa sensação
Pequenos prazeres do frio
Entraram e saíram pessoas
Como de costume, únicos e indiferentes
Nem pensavam nem nunca queriam
Quebrar o movimento do sistema
Nenhuma engrenagem pararia
Tudo no melhor equilíbrio
Desde os átomos que os transformam
Nós pessoas em pura teoria
Útil e infinita de sociologia metafísica
Assim como o lixo e sua importância.
Assim terminava-se a primeira rodada
Ao pedido da moça calada
Cuspi ao desfrutar do seu obséquio
Jamais deveria, mas agradeci
Seu obséquio de morte.
(...?)
Sua blusa apertava meu peito
Mostrando minha camisa ilustrada
Minha música eu aconchegava
Em seu bolso, pequeno bolso
Mais uma vez tu me aquecias.
Passos rápidos pareciam lentos
Vi o asfalto de minha rua
E o chão de minha casa
Passaram me marcando pegadas
Pegadas molhadas a serem enxugadas
Nem sujei a rua ao sair
Tem sempre um lixo
Um que recolhido nunca vi
Pelo sujeito de “varrido”, aqui e ali.
(Sujeito + varrido + predicado)
Seria o sujeito faxineiro prejudicado?
Sua blusa e você de novo aqui.
Seria impossível não me lembrar de ti.
De novo e novo, amo-te.
Mente aberta, inspiradas inspirações
Sensações raras e tensas
De inutilidade prazerosa e original
(Cansei de usar diferente, indiferente)
Seria qualquer tolo escritor só mais um?
(Com RG, CPF e código de barras, para não dizer o resto)
Seria o fato de sua existência provada
Um artifício em sua vida?
Marcadora vã de páginas em bibliotecas
Criadora de EGO e imortalidade.
(imortalidade = existência)?
(mortalidade = quase inexistência = determinismo = sociologia + ou - metafísica)?
Louvai-nos ó vossa sociologia metafísica
Dêem-me o meu papel todos os dias
De contribuinte e estudante
Gerador de notas e futuro
Lindo mundo físico e geométric
Grande Ford
O que seria de nós sem ti?
Sou feliz por ser um alfa-mais
Nessa peça sem audiência digo
Graças a ti, Ford,
Tenho tudo que preciso
Peças em série tu criaste!
E venho em dança
Pela primeira vez
Por meio desta língua
Mas que língua?
Caro mentor por que não me explicou?
O que é este feriado que não sabemos?
O que é o trabalhador?
Sem mente, sem dente, incoerente,
Indiferente, como um carro velho
Só dando trabalho?
Desculpai, eu mesmo, eu - lírico, autor deste
Único leitor e o mais fiel
Acho que não é bem assim
Salvar-te-á o materialismo histórico
Tirando-te de toda mais valia
E entregando-te aos braços do fiel presidente
Herói do povo, seu leviatã
Dar-lhe-á o conforto à sociedade
E uma máquina para todos trabalharem
(Com código de barra, INMETRO, ISO e data de fabricação)
Condicionamento, casa e transporte
Alguma comida, algum conforto
E a liberdade social que tanto queres.
Salvai-nos, ó estado!
(Ficar-te-á feliz, sem mais greves?)
O que Villa-Lobos não musicouAssim como cheguei até meu lar
Cada sorriso ou não no caminho
Assim como enxuguei meus cachos
Cada usuário de roupa banal, incultural e indiferente
Livrei-me dos meus pertences
É tão único como o animal que jantamos
Acariciei meu gato pensando:
-Ele só vive para me agradar e ser agradado
-Eu odeio os deltas, eles são burros, eu não quero brincar com um delta. Mas até mesmo um delta é importante – todos pertencem a todos, ninguém é todo de ninguém - sem um delta ou épsilon a roda e o equilíbrio da vida não giram e assim todos morrerão - Replicava um cidadão sobre o que ele foi condicionado.
Sentei, escrevi, ouvi, cresci
Quando tudo se apagou eu estava lá
A roda da vida parou de girar agora
Vi a luz e o blues irem embora
Agora eu tinha uma vela
Minha vela, só minha
Horas, minutos, folhas, luz
Transfigurando pensamentos e códigos
Códigos em letras
Letras em palavras
Estas em versos e estrofes
Uma máquina perfeita do eu - lírico
Bem condicionado era
A chama brilhava e dançava sobre o pavio
Um espetáculo atômico de combustão
Físico, químico, lingüístico
Assoprarei seu fogo
Dizendo adeus mais tarde
Às minhas idéias
À energia decodificadora
Assoprarei minha paciência
Desligando minha engrenagem a repouso
Foram horas, minutos, tic-toc, luzes
Blues-progressivo-alternativo
Com piano em partitura
Gravado, vendido, roubado
Assopraria meu trabalho
Horas, minutos, folhas, tinta, vela
Como um velho escritor e seu lampião
Tinta, rabisca – Nunca mais!
-Nunca mais!
-Tic-toc!
-Nunca mais, jamais será!
(Assopro)
Fim de noite.
São Paulo, entre 15/16 de novembro de 2007
Lucas Pascholatti Carapiá, melhor dizendo
Algum número em algum documento.
---------------------------------------------------------------------------------
Acho que nunca escrevi melhor que isso. Nunca estive tão inspirado. Comprido, mas eu adoro este! Esta faze da minha vida deu início a que eu estou vivendo agora.
Espero que apreciem.