não tenha medo da prova
ela é tua amiga
ela quer te ajudar
ela quer que você passe
segure-a firme em tuas mãos
olhe bem pra ela
ela sorri pra ti
como a dizer:
-Esse é teu ano,
eu sou a única da tua vida,
não tenha outras,
eu sou ciumenta!
agora vai,
me pega!
me mostra o que você sabe,
me prova que você sabe,
me mostra que você é homem!,
me pega de jeito!,
me esfrega a caneta,
e escreve o que eu quero ouvir,
me ajuda que eu te ajudo,
eu fui feita pra ti.
E eu olho, alegre,
esfrego minhas mãos nela,
sinto a folha em minhas mãos,
olho para as linhas em branco,
para as questões,
sinto seu cheiro de folha nova,
seguro minha caneta,
minha lapiseira, e digo:
-Já que é assim que você quer,
minha amiga,
minha senhora,
você será minha única segunda fase,
e eu serei teu único vestibulando!
você só tem uma vida,
agora me ajuda,
que eu te ajudo!
E vamos nos amar,
para sempre!
...
Assim ele fez a prova, como ela queria, sua amiga, sua amante, ele a teve, sentiu o suor de ambos jorrarem quatro horas em diante, sentiu cada centímetro de suas doces folhas, os delírios das sutilezas nas questões, as dores da caneta, borrando as linhas em branco, o esfregar de grafites nos rascunhos, os tapas de virar folhas, as gotas de água na garganta, os gritos contidos, as certezas e incertezas, no final, um último suspiro de ambos, o de Lucas na respiração, e a da prova, no último fechar de folhas, ele jura que fez seu melhor, a prova, agora calada, intacta, sem dizer mais uma palavra, de gratidão, de dor, ou de tristeza, de insatisfação, muda, muda como o eco, o som da queda da árvore numa montanha desabitada, o silêncio, ele partiu, sem apagar a luz, deixou-a lá, sozinha, não fechou a porta, partiu, sem dizer nada também, seguiu seu rumo, satisfeito, sabendo que fez seu melhor, e isto é o suficiente!, ele partiu...
Isso ocorreu durante três dias...