sábado, 26 de dezembro de 2009

Prova

Lucas,
não tenha medo da prova
ela é tua amiga
ela quer te ajudar
ela quer que você passe
segure-a firme em tuas mãos
olhe bem pra ela
ela sorri pra ti
como a dizer:
-Esse é teu ano,
eu sou a única da tua vida,
não tenha outras,
eu sou ciumenta!
agora vai,
me pega!
me mostra o que você sabe,
me prova que você sabe,
me mostra que você é homem!,
me pega de jeito!,
me esfrega a caneta,
e escreve o que eu quero ouvir,
me ajuda que eu te ajudo,
eu fui feita pra ti.
E eu olho, alegre,
esfrego minhas mãos nela,
sinto a folha em minhas mãos,
olho para as linhas em branco,
para as questões,
sinto seu cheiro de folha nova,
seguro minha caneta,
minha lapiseira, e digo:
-Já que é assim que você quer,
minha amiga,
minha senhora,
você será minha única segunda fase,
e eu serei teu único vestibulando!
você só tem uma vida,
agora me ajuda,
que eu te ajudo!
E vamos nos amar,
para sempre!
...

Assim ele fez a prova, como ela queria, sua amiga, sua amante, ele a teve, sentiu o suor de ambos jorrarem quatro horas em diante, sentiu cada centímetro de suas doces folhas, os delírios das sutilezas nas questões, as dores da caneta, borrando as linhas em branco, o esfregar de grafites nos rascunhos, os tapas de virar folhas, as gotas de água na garganta, os gritos contidos, as certezas e incertezas, no final, um último suspiro de ambos, o de Lucas na respiração, e a da prova, no último fechar de folhas, ele jura que fez seu melhor, a prova, agora calada, intacta, sem dizer mais uma palavra, de gratidão, de dor, ou de tristeza, de insatisfação, muda, muda como o eco, o som da queda da árvore numa montanha desabitada, o silêncio, ele partiu, sem apagar a luz, deixou-a lá, sozinha, não fechou a porta, partiu, sem dizer nada também, seguiu seu rumo, satisfeito, sabendo que fez seu melhor, e isto é o suficiente!, ele partiu...

Isso ocorreu durante três dias...


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Desejos do acaso

Choveu tanto que eu até esqueci que era primavera
Ontem o metrô disse,
Quando eu ia pro cursinho,
De Santana até a USP em meia hora
A partir de março do ano que vem
E eu me mudei pra Santana
E eu estou prestando vestibular
Pra USP
E as aulas de lá começam em março
Mera coincidência?
Não
Mas eu não sou místico
E nem acredito nessas coisas
Mas isso não é uma coincidência
É um sinal
E eu não acredito em sinais
Mas é um sinal que me diz,
Você vai passar na USP
Continue a pegar o metrô pro cursinho
Que você vai passar!
A TV também disse
A propaganda do metrô quer me dizer algo
Mas o Radiohead também...
E a música dizia
"Just 'cause you feel it, doens't mean it's there"
Está o mundo todo querendo falar comigo!
Até mesmo Machado de Assis
Eu vivo dizendo das ideias fixas, desde que li Memórias Póstumas...
E eu vi o filme de Brás Cubas
Justo a parte que ele diz,
... tananã tal ideia fixa do emplasto estava tão presente,
que precisei esfriar essa ideia e tomei uma brisa, ficando doente...
Pois é, querer estudar Relações Internacionais na USP é uma ideia fixa,
e talvez...
Nessas noites que eu durmo, eu sinto tanto! frio! de querer esfriar minha ideia, fiquei gripado...
já é a segunda vez, a outra foi antes da primeira fase!
Um dos meus humoristas preferidos deu uma entrevista no Jô falando que fez RI...

O mundo quer falar comigo...
Mas não acredito em sinais,
e afinal, isso tudo são sinais!

Acreditando eu ou não!

O mundo quer que eu passe no vestibular!


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Brasileiro, o Crítico Nato

O Brasil é um dos maiores país do mundo, considerado entre os economistas, um país em desenvolvimento, um tanto quanto imperialista, concentrando um forte potencial econômico, dando-o o cargo de um dos futuros países mais ricos do globo. Entre tais considerações, pode-se ressaltar sua população tipicamente de classe média, de acordo com as últimas pesquisas do Instituo Getulio Vargas.
Entre essa população crescentemente de classe média encontram-se diversos brasileiros que acabam encontrando no exterior as chances de procurar uma nova vida, locais de estudos, um novo emprego ou até uma forma de adquirir experiências passageiras. E é em tal busca por novas vidas que muitos desses brasileiros acabam se encontrando e fazendo amizade entre si e com estrangeiros de todas nacionalidades. Um assunto típico entre eles é o Brasil, os problemas do Brasil, o que o Brasil difere do suposto país em que vivem, o que difere o povo Brasileiro de seus amigos estrangeiros, e toda essa conversa dividida com seus amigos de fora, que se surpreendem com o número de reclamações de seus para com o próprio país. Tal fato é extremamente corriqueiro entre os brasileiros estudados que vão ao exterior, acentuando-se a criticidade deste povo.
Se há um problema político, que envolva corrupção, descasos governamentais, entre os meios de comunicação pode-se ver explosões de inconformismo, têm-se várias revistas ou telejornais publicando os fatos, comprovando, denunciando e alertando. Têm-se em conversas de bar diversas pessoas comentando o assunto, dizendo mil e uma palavras de inconformismo, lamentações em geral. Se há um problema típico, o governo é o culpado, a pressão vai para o governo, é tudo sempre o governo. Em meio a discussões, há sempre a crítica direta, os males, sempre em pauta. A criticidade é tamanha que nem ao menos existe uma leveza de compreensão para certos assuntos, nesse momento todas as qualidades do Brasil são postas de lado e este país passa a ser o pior do globo. O brasileiro possui a sindrome do pobre homem coitado, onde tudo o que ocorre aqui é ruim. Não é possível ver o lado bom do que ocorre em meio a um turbilhão de criticismo.
Mas em geral, tal atitude caracteriza o povo brasileiro e o diferencia de muitos outros países. E se não fosse tamanha a munição do homem brasileiro, urbano, de classe média, dificilmente seria o Brasil detentor de tamanho potencial, tanto econômico, como político e humano. Os problemas são muitos, em todos os campos, sobretudo no político e social, mas o fato de tal país conter cidadãos tão críticos é uma forte ferramenta para superação de problemas e defeitos corriqueiros existentes. É no criticismo do brasileiro nato que está grande parte do futuro.