terça-feira, 27 de maio de 2008

Minha epopéia, ascenção e queda perante São Paulo


   

   Uma terça feira comum e obrigaram-me geniosamente a narrar São Paulo, enfatizando sua magnitude. Achei-me nocauteado ao centro da sala de aula, pessoas falando como zumbidos átonos em meus ouvidos, o quase sistema mal elaborado no espaço que me situava, as rodas em um todo giravam pelas dez da manhã, as luzes acesas, eletricidade, o barulho enlouquecedor, o sol lá fora brilhava lindamente, sendo que ao redor tudo lembrava sujeira e desordem. Nós paulistas nos alegramos perante a isto, cultura, noites boêmias, prédios, sujeiras, luzes, poluição de todos os tipos, rodas da vida, rodas e novamente a energia, milhões e milhões e trilhões de átomos, vinte e quatro horas ao dia! Por dentro gritava alegre, triste, perturbado, as duas pontas de uma faca me perfuravam garganta abaixo e acima... Tudo, uma dialética viva. Os proibidos pontos negativos me sacudiram rudemente conseguido de desespero, enquanto isso os cátions (os íons, ou pontos positivos, seja lá sua preferência) de São Paulo moviam minhas mãos a escrever absolutamente nada, nada mesmo. Sentia-me confuso, mui deprimido, fatigado, minhas costas doíam como se a dor fosse as algemas d’um inocente preso. E minhas mãos se moviam continuadamente sem nenhum compasso, como engrenagens enferrujadas em uma indústria falida.

   Vivo em algo vivo, vivemos assim, realmente. E não há melhor adjetivo para isto. São Paulo é dona da nossa realidade, a vida em si, um amontoado de vida, um serrado de vida, feita de íons (os cátions e ânions – perdoem-me por toda esta química), soltos em um desenho que se assemelha àqueles contidos nas calçadas centrais. São Paulo, branco, preto, branco, preto, lixo e luxo às calçadas, tudo em cascata, lembro-me das misturas étnicas. Outra antítese com o que me deparar. Já enlouqueci há tempos. Notei-me disto sim, é verdade, faz um tempinho!

   A cada segundo, elementos subatômicos cruzam-nos energicamente em São Paulo (como diz a física quântica), daquela forma que a cachoeira atinge seu alvo de queda. Só que a cachoeira paulistana não é qualquer uma, é muito maior que uma catarata, é imensa! O cálculo de energia agora é joules e joules maiores no expoente de nossa notação científica. Tudo proveniente de toda essa vida, e se temos energia temos trabalho, haja trabalho. Trabalhos de todos os tipos: de história, geografia, sociologia, dependendo da pessoa, muita filosofia, qualquer tipo de trabalho! Rápido, rápido, em um ritmo muito rápido, cheguemos ao alegro desta composição, me perco nesta magnitude e desprendo-me dos pólos opostos desta cidade e desejo correr daqui, para minha casa, lá no horto, na minha ilha tranqüila, “há milhas e milhas de qualquer lugar”, tudo é um, tudo é infinito, tudo é Tao.

   “Temos” a beleza ecológica da mata atlântica, farejada e acolhida pelos nativos e “evoluída” pelos grandes e inteligentes europeus, aqui no infinito caminho, nas matas, respiro as matas, que ilusão, caros paulistanos.

   Sonho, muito, que estou a correr daqui, desta prisão, saindo deste centro que estou, voando sobre prédios, sobre a marginal do denso e belo Tietê, de longe avisto o Banespa, gozo o branco do concreto que desenha o horizonte, rasgo os bairros nas alturas, tudo infinito. Corro para perto do Tremembé, fugindo deste velho truque batota chamado CEFET, muito audaz este. Olho admiradamente, como se neste sonho estivesse novamente por lá, e vejo que nada disto é sonho e sim pura realidade! Defronto com o “Parque Estadual da Cantareira”, me perco propositalmente de minha pesada mochila em um arbusto qualquer, ponho-me a me despir vagarosamente sobre a naturalidade da mata. Corro, corre sem parar, como uma pessoa avistando o mar pela primeira vez, renascendo, corria pela mata, bradando liberdade, liberdade, a paz das matas paulistas, respirava com força e preparava as minhas cinzas de Fênix em lágrimas pelo frescor puro do intocável, renasceria. Corria, saltava, nem ligava por ultrapassar o nicho de seres peçonhentos, não acreditava que estes indefesos eram peçonhentos e sim nós. Sabia o que queria, sabia o meu objetivo e me deixei levar, desta vez minha humanidade me guiou para onde queria, Pedra Grande era-o apelidado local.

   Olho para o horizonte, São Paulo, meu lar enfrentava-me duramente, como um pai repreende o filho rebelde. Via tudo, cada prédio, cada rua, cada traço embaçado no horizonte que meus míopes olhos fitavam, rosnando com cabelos atmosféricos cor cinza para mim. Ser tão vivo, toda aquela vida ali, tantas coisas, tanta gente, brava gente, mentecaptos, malfeitores, nobres de espírito, tudo, o meu infinito - Sou uma célula do seu corpo São Paulo! Nesta personificação séria e mais que real para mim (juro não ser loucura minha ver São Paulo assim), travamos por horas um combate oral e espiritual, onde vencia aquele que mais vida tinha. Era eu Zeus enfrentando Cronos o titã que era São Paulo, lutava para não ser mais um de seus filhos devorados! Lutei, gritei, mas não resisti. São Paulo é muito para mim, ninguém pode com ela. Não fui devorado, dar-me-ia São Paulo, piedosamente a minha liberdade, porém tive de admitir que não fosse nada, apenas um filho revoltoso, admiti sua beleza, admiti também que aquelas matas eram suas matas, que aquilo era ela, sua beleza, e mais uma vez me achei como uma célula qualquer no meio do infinito. Grande e bela São Paulo – Tu fizeste-me aceitar-te, que assim, não precisaria ser mais engolido, forte és tu, São Paulo, dê-me a liberdade de viver em ti, como uma célula livre – Caí ao chão pedregoso, morria agora mais um filho rebelde de São Paulo, nascia outro. O meu sangue fora absorvido pelo seu solo maltratado, abracei seu solo docemente, como uma criança faz à sua pelúcia, sou todo teu São Paulo, apagava-me neste infinito novamente, porém livre e tolerante com ele, o mais forte, São Paulo.


Luto da Família Silva - Rubem Braga


   
  Esta crônica, abordada na minha aula passada de língua portuguesa e redação, retrata através de uma audaz metáfora o povo brasileiro e suas características em um tom crítico e jornalístico, levando-a à extemporâniedade, escrita em 1935, mantém-se válida atualmente.
   A seguinte metáfora centraliza-se na comparação da morte de um moribundo "João da Silva" com todos os homens da marjoritária classe baixa, operária ou camponesa do Brasil, a qual muitos possuem o sobrenome em destaque.
  O título "Luto da Família Silva" individualiza a morte como de propriedade única e absoluta da família Silva. Sendo esta referida com um cérto ar de esperança por um futuro melhor, em que os Silvas teriam o poder um dia, vide a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, mas creio eu que ele tem pouco haver com os Silvas da crônica em destaque.


  "Luto da Família Silva"

Assistência foi chamada. Veio tinindo. Um homem estava morto. O cadáver foi removido para o necrotério. Na seção dos “Fatos Diversos" do Diário de Pernambuco, leio o nome do sujeito João da Silva. Morava na Rua da Alegria. Morreu de hemoptise.

João da Silva - Neste momento em que seu corpo vai baixar à vala comum, nós, seus amigos e seus irmãos, vimos lhe prestar esta homenagem. Nós somos os Joões da silva. Nós somos os populares Joões da Silva. Moramos em várias casas e em várias cidades. Moramos principalmente na rua. Nós pertencemos, como você, à família Silva. Não é uma família ilustre; nós não temos avós na história. Muitos de nós usamos outros nomes, para disfarce. No fundo, somos os Silva. Quando o Brasil foi colonizado, nós éramos os degredados. Depois fomos os índios. Depois fomos os negros. Depois fomos imigrantes, mestiços. Somos os Silva. Algumas pessoas importantes usaram e usam nosso nome. É por engano. Os Silva somos nós. Não temos a mínima importância. Trabalhamos andamos pelas ruas e morremos. Saímos da vala comum da vida para o mesmo local da morte. Às vezes, por modéstia, não usamos nosso nome de família. Usamos o sobrenome de Tal". A família Silva e a família “de Tal" são a mesma família. E, para falar a verdade, uma família que não pode ser considerada boa família. Até as mulheres que não são de família pertencem à família Silva.

João da Silva - Nunca nenhum de nós esquecerá seu nome. Você não possuía sangue azul. O sangue que saía de sua boca era vermelho - vermelhinho da silva. Sangue de nossa família. Nossa família, João, vai mal em política. Sempre por baixo. Nossa família, entretanto, é que trabalha para os homens importantes. A família Crespi, a família Matarazzo, a família Guinle, a família Rocha Miranda, a família Pereira Carneiro, todas essas famílias assim são sustentadas pela nossa família. Nós auxiliamos várias famílias importantes na América do Norte, na Inglaterra, na França, no Japão. A gente de nossa família trabalha nas plantações de mate, nos pastos, nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, nos balcões, no mata, nas cozinhas, em todo lugar onde se trabalha. Nossa família quebra pedra, faz telhas de barro, laça os bois, levanta os prédios, conduz as bondes, enrola o tapete do circo, enche os porões dos navios, conta o dinheiro dos Bancos, faz os jornais, serve no Exército e na Marinha. Nossa família é feito Maria Polaca: faz tudo.

Apesar disso, João da Silva, nós temos de enterrar você é mesmo na vala comum. Na vala comum da miséria. Na vala comum da glória, João da Silva. Porque nossa família um dia há de subir na política...
Junho, 1935

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sobre o Kung Fu




Fotos do ultimo exame do dia 26/04/08 -Exame meio vazio, era o mais graduado. No fundo o Martinelli.

   Faço Kung Fu desde outubro de 2005, contarei a história do por que disso e o que me fez chegar lá. Sempre quis fazer alguma arte marcial desde pequeno, não sei se pelo grande número de desenhos e seriados japoneses que atiravam em nossas mentes daquela década de 1990 ou se pelos filmes americanos como Karatê Kid ou os clássicos da “porrada” como Bruce Lee e Jackie Chan (sempre diretamente ligados as tão fabulosas artes marciais, nada muito diferente de hoje). E em um dia andando pela Avenida Santa Inês, próxima a minha casa, como sempre fiz, resolvi parar na (por mim tão bajulada desde sua fundação) academia Choy Lay Fut de Kung Fu. Entrando para ver a academia acabei me empolgando e decidindo-me a praticar, e isso eu concretizei, depois de muito tempo convencendo os meus pais desde criança que num simpatizam muito com artes marciais (já fiz judô, natação, escola de esportes, musculação, ou seja, tudo que já pude fazer em nada disso me firmei). Nunca esqueço a primeira vez lá falando com o Martinelli e fazendo perguntas básicas para testar a academia. Na época fazia musculação, mas a partir do tempo que fiz Kung Fu acabei largando-a. Era um tempo meio complicado, tinha catorze anos, fazia cursinho para passar em alguma escola aí, tinha aprendido o que eram mulheres e alguns problemas que trazem os relacionamentos afetivos, enfim, estava largando de vez minha infância e não havia nada melhor que alguma coisa que envolvesse físico e mente para me influenciar de uma maneira gostosa a minha vida. Sem saber de nada disso, com inocência, joguei-me com tudo ao Kung Fu.

  Fui indo, apesar de nunca ter tido uma freqüência rotineira na academia devido a minha personalidade me mantive fiel e apaixonado, sempre mostrando a todos o que aprendia, querendo fazer tudo direito e passar rápido de faixa, oh se passava, cheguei rapidinho na vermelha! Como uma criança perdida em uma loja de brinquedos eu ia treinar e desenvolvia dentro de mim essa arte, apesar mesmo de todos os transtornos de curiosidade universal que essa idade de catorze e quinze anos proporciona. Às vezes tinha preguiça, outras operava o nariz ou o dente do siso, às vezes viajava e faltava, nada me impedia. Enfim, o laço apertou e fui criando rotina e freqüência maior.
  
   Agora, maio de 2008, após quase três anos de treino e prática dessa arte. Hoje já aprendi o currículo de mais de seis faixas, fiz curso de instrução, técnicas extras, já fui a um campeonato, faço treino de técnica de luta e me mantenho firme e empolgado treinando e estagiando como instrutor. Tudo isso com o Martinelli e na academia Choy Lay Fut.

   E neste sábado dia 26 de abril eu finalizei mais uma etapa de treino e dedicação nesta arte e passei para a faixa vermelha, faltam mais duas para preta (para evitar perguntas, mas não há pressa por minha parte, nem devo). Kung Fu é isso, é tu querer, atingir, aprender, estudar, desenvolver, percorrer uma longa jornada, vivenciar e se impressionar com o caminho que já percorreste, olhando ao horizonte e vendo o quanto ainda tens de percorrer. É paciência, perseverança e isso que parece ser algo “zen” e incompreensível para nós ocidentais o Martinelli não nos diz muito, nós sentimos. O Kung Fu nos mostra isso, esses chamados clichês das artes marciais, o melhor de tudo é que isso vai à vida, o Kung Fu vira nossa vida! E quando vemos já não há mais uma barreira que nos separa desta filosofia, arte do corpo ou da guerra.
  
   Mas guerra? Sim. Artes marciais foram feitas para a guerra, para a violência, para matar... – Mas Lucas tu gostas de sair batendo em pessoas por aí? Ainda mais neste mundo com armas, porrada não resolve não, existem armas de fogo! – Alguns indagariam. Existe a Ioga, que ensina tudo isso também e não meche com violência. Enfim, para nós, saber que poderemos ter uma força maior sobre nós e os outros através de meios marciais e físicos nos põe acima da sociedade, saber que podemos matar qualquer um usando nossas mãos é algo vantagioso e agradável a todos. Acho que é isso que buscamos, nos colocar a cima, crescer, evoluir, nos colocar em um ramo mais alto. E quando chegamos lá, não queremos guerra, não queremos violência, aprendemos o quanto isso é fatal, o quanto isso é sério. E nos policiamos, policiamos o mundo, não há sentido para agressões e abusos. É como andar na rua se sentindo forte e preparado para lidar com desafios, mas não nos entregamos para o mal. É capaz de um artista marcial contemporâneo de verdade morrer e nunca precisar usar de sua força. E todos os golpes fatais, todos os ataque a pontos vitais se tornam um aprendizado que geram tudo aquilo que eu já disse de a mais em nossa vida, nos fazendo potentes e pacientes. Se por acaso um dia tiver de usar isso, saberei usar de forma eficaz e correta, pondo-me satisfeito com tudo isso que aprendi. E isso dizia Bruce Lee em seus filmes e livro, assim como muitos outros artistas marciais, todos os hábeis e verdadeiros artistas. Eis a filosofia das artes marciais.

Site da Academia Choy Lay Fut de Kung Fu

Vídeos meus e do ultimo exame no You Tube