segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Elegia à Minha Casa
Dói saber que deixarei para trás minha casa
Depois de tantos anos por aqui morando
Dói no peito a mudança, o medo aperta
Dói no peito o receio pelo futuro, as lembranças
Todos os sorrisos
Os anos que cresci
Todas as fases de minha vida
Eu cresci
A casa cresceu
Lembro de todas as reformas
Cada ano
As festas
Os natais
Que se foram...
Nunca mais houve um natal para mim...
Os natais ficaram nos anos 90, de meus 5, 6 ou 7 anos
Meu amor de 16 e 17
Minhas noites acordado
Minha adolescência
Minhas brincadeiras de quintal
As estrelas
As árvores
As músicas
Os sorrisos
Os sorrisos...
As tardes com minha avó, meu irmão, meu primo ou o vizinho
Minha casa foi minha amiga mais fiel...
Sinto-me a abraçar o chão
Derramar lágrimas sobre as colunas
Me esfolar nos tijolos
Engolir o concreto
Em saborear as tintas
Que deram várias cores
À mesma parede
A devorar a terra do jardim
Semear para sempre
Com lágrimas
O solo que jamais videi
E que outro agora semeará
O solo que um dia eu plantei um pé de manga
E minha mãe teve de tirar
Aonde ficava o Mestre dos 7 anões
O chão que quebrei meu braço
Aos 10 anos...
Nos cantos que briguei com meu irmão
Nos cantos que muitas vezes rimos
E eu cresci aqui
E aqui deixo minhas lágrimas
Minha saudade
Jamais verei de novo
Este chão
Jamais sentirei este cheiro
Fica agora
Com meus dezoito anos
O país de minha infância
O último de seus resquícios agora já era
E é como se morresse algo em mim
Abrindo espaço para algo novo a surgir
É triste
Saber que outro cá pisará
Demolirá estas paredes
Construirá sua vida
Aonde eu construí a minha
Aonde eu destruí a de alguém
Neste chão
Único
Que jamais será o mesmo
Para ninguém
Minha casa cresceu comigo
Minha vida até hoje se combinou com ela
Um mutualismo
Apesar de meus pais ou meu irmão
Minha vó ou quem for
Minha casa estava aqui
Para mim
Só minha
Minha casa...
Minha irmã
Eu a criei
Ela me deu conforto
Sombra
Carinho...
Minha casa me abraçou tantas noites
Me beijou nos dias de infância
Me mostrou sombras amedrontadoras
Me fez corajoso
Arrebentou meu braço em 2
Me criou...
Minha casa...
Por que tenho de partir?
Por que tens de morrer?
Por quê?
Por que tenho de te deixar?
Por que é tão ruim...?
Por quê?
Gostaria de te ter mais e mais...
Te de ajoelhar sobre seus pés
E soluçar...
Pedir seu afago...
Mas tem outra me esperando...
E você ficará pra sempre...
Depois de anos juntos, a vida foi sempre fácil contigo
Agora tenho a cidade
Os prédios
Meio urbano
Sem árvores
Só concreto
Casas
Faculdade
Estudo...
Dinheiro...
Carro...
Vida de adulto...
Quando sempre te pedi pra crescer...
Agora gostaria de ser pequeno, aos seu chão...
Pequeno...
Indefeso...
Pequeno homem...
Inseguro...
Com medo...
Querendo-te minha casa.
Fica pra trás
Para sempre...
Para sempre...
Gostaria de chorar
Neste chão
Mas cresci
E crescer significa saber controlar as lágrimas
E ver o futuro, com olhos secos...
Ver a vertical de meu futuro
Alto
No vigésimo primeiro
Mais perto do centro
Aonde eu estudarei relações internacionais
Tomarei café às alturas
Descerei à padaria
Conversarei com gente grande
Brincarei na piscina e na sauna
Malharei na sala de ginástica e estacionarei o carro dos meus pais na garagem...
Futuro
Saber ver
Com dor
Sofrendo
De olhos secos
Saber deixar para trás
O passado
Os melhores momentos
Guardar
Para sempre
Em minhas lembranças...
Minha casa, afinal das contas
Está em mim
Eu sou minha casa
Este chão
Habitou minha casa
Minha casa
Sou eu
Eu adotei minha casa
Minha casa estará sempre comigo...
Eu levarei-a comigo
Para aonde for
Seja lá qual casa for
Esta
Do passado
Que nunca mais verei
Física e concreta
Ficará em mim
Digerida
Em meu sangue
Minha genética a tem
Cresci com ela
Ela é minha mãe, minha irmã... Minha gêmea...
Mais nova...
Filha dos meus pais...
Minha mãe
Minha guardiã
Meu esconderijo
Minha melhor amiga...
Confusa situação
Levarei um tempo para superar...
...
...
...
...
...
...
Faltam respostas...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Meu amigo, difiro de você quanto ao fato de "crescer" implicar 'reter as lágrimas'. Bom, no meu ponto de vista crescer não exclui ou "segura" as lágrimas. Elas vem para o bem. Depois do choro, a vida se renova. Depois de cheio o rio, vem a desova.
ResponderExcluirEu nem sequer cogito mudar de casa. Dependendo de mim, isso não acontecerá nem agora nem no futuro próximo.
Posso imaginar a tristeza que eu sentiria se mudasse do local que me abriga quando preciso de um teto amigo. Que eu conheço melhor do que a palma das minhas próprias mãos, ou a planta dos meus pés.
Mas cada fim vivente designa um início. E isso em si já é um mínimo motivo de gozo e júbilo.
Cheer up.
Para evoluirmos, precisamos deixar algo para trás...
ResponderExcluirRealmente!
Você está certo! Crescer não significa reter lágrimas! =D
E eu vi que minha tristeza, eu ter escrito isto aqui! Me fez muito fortes para aguentar a mudança, até que nem fiquei chateado... A cura pela fala!