Tínhamo-lo e sua amada. Imaginem um cubo branco. Oco por dentro. Esse era o mundo que ambientava esta história. Os dois caminhavam e caminhavam. Sem rumo certo. O caos à frente. Ele, que eu não sei o nome, aparentava estar mais amedrontado que ela, que eu também não sei o nome. O aperto das suas mãos era o único conforto que os mantinha em rumo. Neste ambiente não havia oxigênio. Não havia realidade. Não havia nada e nem ninguém. Só os dois, seguindo à diante. Sem nenhuma certeza. Só com a esperança de chegar a algum lugar. Lugar algum. Para quem sabe, viverem novamente como sempre viveram, como dois amantes felizes. Palavras chorosas e sentimentais, daquele que busca forças na amante, fazendo dela uma nova mãe, a mulher de sua vida. Ele homem que sempre se mostrou controlador, forte, daqueles que nem o pior dos líderes consegue controlar agora segurava na mão de sua amada fortemente, sendo guiado por horas e horas e horas, cansado. Querendo desistir... – Amor, não agüento mais, por favor... O que fizemos para merecer isso? O que? O que? (Chorando) Por que temos de andar e andar sem rumo algum, até onde isso dará? – Acalme-se gatinho, a gente consegue isso, eu tenho certeza que da misteriosa forma que chegamos aqui, algum dia sairemos, sei que já se faz um mês que andamos e andamos e nada, mas alguma hora! Sim! Quem sabe? Fica calmo! Por favor! Lembre de tudo aquilo que você me disse nos primeiros dias – Os dois trocavam certas palavras de consolo, mas ultimamente... As coisas para ele, que nunca foi dos mais fortes mesmo com o tipo, agora desistia.
-Mas é que esse branco. O branco, e todo esse tempo. Sem comer e comer. Já avistamos aquela fenda já faz dias e nada, nada de chegarmos lá... Nada.
E assim prosseguiram novamente. Mais uns dias a caminhar.
E no nono dia. O chão que parecia infinito agora se dividia em dois. A cima de suas cabeças, nesta infinita sala iluminada, as lâmpadas fluorescentes que não se viam agora brilhavam mais fracas. Era uma escada onde lá em cima a muitos e muitos metros parecia chegar o fim. Eram já um mês e alguns dias que misteriosamente eles foram jogados neste mundo. Todo este tempo, sem comer e sentir fome, sem beber e sentir cede. Sem dormir ou sentir sono, era como se fosse à maior danação eterna, umas férias no inferno como ele dizia todos os dias de caminhada a ela. No começo ainda trocavam alguns beijos mais apaixonados, mas agora, esses beijos eram só lagrimas de consolo.
-Quem sobe antes? – Perguntou ele, como se pedisse para ela o carregar para cima.
-Vá você que eu subo depois – Respondeu ela.
O que ela não percebia e o que ele não disse. Ele estava com o maior dos medos. Mas após respirar fundo quatro vezes, tremulo, colocou a primeira mão e seguiu a subir. Subiam e subiam, seus corpos pareciam ter perdido qualquer uma de suas forças materiais. Não cansavam. Foram dois dias de subida incessante. Tantas e tantas vezes sentiu a vontade de largar dos degraus e cair, cair e cair... Fugir de toda essa dor que sem escolher, sem nenhuma explicação sentia e não desejava de forma alguma continuar sentindo. Mas ela, sua amada, era forte, e segurava qualquer uma dessas suas vontades. Coisa que há tempos, ele que fazia com ela, ele que obrigava ela a andar de sua casa até o terminal de ônibus mais próximo, coisa que não durava nada mais ou nada menos que uma hora, mas ele a obrigava, ela de vestido e ele atleta. Obrigando ela a andar. Brigaram muitas vezes por isso. Mas agora a realidade mudara.
Enfim, subiram ao tão esperado topo. No topo, uma bandeira do Brasil balançava lindamente, por um vento que não viam vindo de nenhum lugar.
-São só mais algumas caminhadas até a próxima fenda. Você vê? – disse ele tentando liderar por agora.
-Sim, mas agora, que estranho. Parece que temos que descer um pouco. Você vê uma mancha índigo ao fundo. Parece que a partir desse tom temos mais uma descida, o estranho é, será outra escada?
Andaram por apenas vinte minutos.
-É, chegamos, você estava certa, é outra escada. E bem curtinha. Mas o que será lá em baixo?
A vista era uma queda infinita. Onde, uma pequena escadinha cor de prata, levava para um pequeno quadrado com pouco mais que seis metros quadrados.
-É não há outra alternativa a não ser descer e ver.
Mas ele estava com medo.
-Mas, você tem certeza, como faremos pare descer por esta escada? Ela se suspende para baixo, eu não sei descer por uma escada na vertical, assim, não dá para simplesmente por o pé e descer, teremos que virar as costas. Não. Não sei. Estou com medo. – Disse ele.
-Amor, calma, é fácil vai! Vê se não vai dar um de besta agora que já estamos chegando a algum lugar depois de UM mês de caminhada!
Ela calmamente o ajudou a descer como um pai ensina um filho e se pôs a descer logo atrás. E de longe podemos ver os dois descendo, devagar, com medo, até chegarem a um quadrado. A partir do quadrado, eles puderam ver uma pequena tábua de madeira. Tábua esta que os conduziria até o outro lado de um quadrado, que já mostrava ao longe, rastros de um local urbano, a esperança para eles, eram sons dos ônibus, dos carros, das buzinas, de suas realidades. Abraçaram-se forte. Pois, talvez, após a tentativa de passar por essa estreita tábua, com cerca de quarenta centímetros de largura, poderiam jamais se ver. Amantes de um ano já! Poderiam cair, e ao cair, não saberiam quando se encontrariam de novo, e se isso seria possível. Mas esse um mês de caminhada infinita, os fez sem sentimentos, sem sensações, sem nada de humano que ainda pudesse restar de real, era um abraço artificial, forçado, pois afinal! Ainda se amam muito! Muito mesmo! Mesmo sem qualquer sentimento humano. Um beijo, leve e longo. Seco. Ele dizia que jamais atravessaria aquilo, que não dá! Ele sempre se equilibrou nas guias de ruas, mas agora, não... Não iria de forma alguma. Mas dizia isto com a certeza de que iria, era a única alternativa. Ele parecia um molenga chorando e reclamando toda hora, coisa que ele jamais foi! Mas estava sendo, a fim de ganhar algo de sua amada, eu acho.
Após todo o drama. Ela deu a mão a ele dizendo:
-Vamos juntos. Juntos. Eu pisarei e você irá atrás. Se conseguirmos, só mais uma semana de caminhada. E estaremos em casa, juntos de novo! Para sempre! Como sempre sonhamos.
Um ultimo abraço. E as mãos atadas. Isso o fez lembrar dos filmes de Indiana Jones. Uma pisada. Um sorriso. Um sorriso em resposta. Outra pisada e um calafrio. Estavam já suspensos sob o ar. Outros passos, agora sentiam que conseguiriam sim! E andaram pela tábua. Eles podiam ler um pouco mais a frente, cheios de frio na barriga, até mesmo ela que fora forte todo esse tempo parecia querer desistir. Liam. Logo no fim da tábua. Suspensa, sem nada segurando. Uma plaquinha vermelha iluminada, daquelas de saída de emergência. Escrita de branco. Saída. Essa placa parecia ser um anúncio para a morte de ambos. A placa que os conduziria para o fim eterno. De repente, ele... Se vendo sob esta situação perde ela de suas mãos, ele perde ela de vista. Era agora somente ele suspenso sob essa tábua. Sozinho, aonde fora parar seu amor? Cadê? Porque ela sumira? Por quê? Ele só conseguiu tudo isto por ela!
Aquele frio na barriga novamente, o corpo mole. Mole como nunca estivera. Tremendo. Ele disse a si mesmo que não desistiria nunca! Iria prosseguir sim, mesmo com o sumiço dela! Mas ouvia a voz de sua amada em um lugar que não sabia aonde, ouvia suas suplicas! E não conseguia identificar as palavras! Ele caiu de lado, como se perdendo o controle do corpo todo. Caia e caia. Vendo tudo a baixo de si girando e girando e girando. Agora podia sentir o vento que balançava a bandeira de sua pátria amada em seu rosto. Caia e caia. Sob uma velocidade que nem ele sabia. Todas as suas vísceras pareciam ter se desintegrado devida ao frio interno e toda sensação de explosão goela a baixo.
E ela se encontrava abraçada com ele, mais tarde, após a queda. Em um banco de praça sob a cidade de São Paulo. Os dois, sorrindo. Alegremente um para o outro. Fortemente! Agora estavam juntos de novo! – Eu te amo mais que tudo – Dizia ela – Eu também meu amor! Mais que tudo neste mundo, conseguimos, conseguimos, agora seremos mais felizes do que nunca! Só nós! Conseguimos, estamos aqui de novo! Que lindo! – Respondeu ele. Até o momento que uma jorrada de tiros de metralhadora veio próximo a eles... Uma jorrada... Gritos e mais gritos... Pessoas mortas... Seria este o fim?
As coisas se revelaram a ele através dum sonho, numa fria e fechada tarde de setembro. Quando a primavera não se revelou das mais inspiradoras. Aqueles dias que acorda e já sabe a depressão que se encontraria por todo o seu estar durante o passar das horas. Nada mais resolveu fazer do que dormir. E dormiu. Dormiu sem pensar nas conseqüências, ou nas obrigações que deveriam se suceder. Por passadas lentas e olhar moribundo, seguira pela guia da rua que morria em sua. Desligara-se da música que o acompanha sempre pelas jornadas escola-casa e casa-escola. Desviara das fezes animais e se emocionara quando viu um pequeno e belo gato pedindo carinho a ele. Lembrou do seu gato o esperando por uma felícia. Mas voltando ao sono. Ele dormia faminto. Entorpecido das drogas matutinas. Coberto por um amontoado aconchegante de edredons e cobertores, esquentando seu corpo ao ponto da sudorese. Seu gato fugira dele. E ele capotava sobre a realidade do sono e sobre a falsidade da vigília. Os sonhos.
-Mas é que esse branco. O branco, e todo esse tempo. Sem comer e comer. Já avistamos aquela fenda já faz dias e nada, nada de chegarmos lá... Nada.
E assim prosseguiram novamente. Mais uns dias a caminhar.
E no nono dia. O chão que parecia infinito agora se dividia em dois. A cima de suas cabeças, nesta infinita sala iluminada, as lâmpadas fluorescentes que não se viam agora brilhavam mais fracas. Era uma escada onde lá em cima a muitos e muitos metros parecia chegar o fim. Eram já um mês e alguns dias que misteriosamente eles foram jogados neste mundo. Todo este tempo, sem comer e sentir fome, sem beber e sentir cede. Sem dormir ou sentir sono, era como se fosse à maior danação eterna, umas férias no inferno como ele dizia todos os dias de caminhada a ela. No começo ainda trocavam alguns beijos mais apaixonados, mas agora, esses beijos eram só lagrimas de consolo.
-Quem sobe antes? – Perguntou ele, como se pedisse para ela o carregar para cima.
-Vá você que eu subo depois – Respondeu ela.
O que ela não percebia e o que ele não disse. Ele estava com o maior dos medos. Mas após respirar fundo quatro vezes, tremulo, colocou a primeira mão e seguiu a subir. Subiam e subiam, seus corpos pareciam ter perdido qualquer uma de suas forças materiais. Não cansavam. Foram dois dias de subida incessante. Tantas e tantas vezes sentiu a vontade de largar dos degraus e cair, cair e cair... Fugir de toda essa dor que sem escolher, sem nenhuma explicação sentia e não desejava de forma alguma continuar sentindo. Mas ela, sua amada, era forte, e segurava qualquer uma dessas suas vontades. Coisa que há tempos, ele que fazia com ela, ele que obrigava ela a andar de sua casa até o terminal de ônibus mais próximo, coisa que não durava nada mais ou nada menos que uma hora, mas ele a obrigava, ela de vestido e ele atleta. Obrigando ela a andar. Brigaram muitas vezes por isso. Mas agora a realidade mudara.
Enfim, subiram ao tão esperado topo. No topo, uma bandeira do Brasil balançava lindamente, por um vento que não viam vindo de nenhum lugar.
-São só mais algumas caminhadas até a próxima fenda. Você vê? – disse ele tentando liderar por agora.
-Sim, mas agora, que estranho. Parece que temos que descer um pouco. Você vê uma mancha índigo ao fundo. Parece que a partir desse tom temos mais uma descida, o estranho é, será outra escada?
Andaram por apenas vinte minutos.
-É, chegamos, você estava certa, é outra escada. E bem curtinha. Mas o que será lá em baixo?
A vista era uma queda infinita. Onde, uma pequena escadinha cor de prata, levava para um pequeno quadrado com pouco mais que seis metros quadrados.
-É não há outra alternativa a não ser descer e ver.
Mas ele estava com medo.
-Mas, você tem certeza, como faremos pare descer por esta escada? Ela se suspende para baixo, eu não sei descer por uma escada na vertical, assim, não dá para simplesmente por o pé e descer, teremos que virar as costas. Não. Não sei. Estou com medo. – Disse ele.
-Amor, calma, é fácil vai! Vê se não vai dar um de besta agora que já estamos chegando a algum lugar depois de UM mês de caminhada!
Ela calmamente o ajudou a descer como um pai ensina um filho e se pôs a descer logo atrás. E de longe podemos ver os dois descendo, devagar, com medo, até chegarem a um quadrado. A partir do quadrado, eles puderam ver uma pequena tábua de madeira. Tábua esta que os conduziria até o outro lado de um quadrado, que já mostrava ao longe, rastros de um local urbano, a esperança para eles, eram sons dos ônibus, dos carros, das buzinas, de suas realidades. Abraçaram-se forte. Pois, talvez, após a tentativa de passar por essa estreita tábua, com cerca de quarenta centímetros de largura, poderiam jamais se ver. Amantes de um ano já! Poderiam cair, e ao cair, não saberiam quando se encontrariam de novo, e se isso seria possível. Mas esse um mês de caminhada infinita, os fez sem sentimentos, sem sensações, sem nada de humano que ainda pudesse restar de real, era um abraço artificial, forçado, pois afinal! Ainda se amam muito! Muito mesmo! Mesmo sem qualquer sentimento humano. Um beijo, leve e longo. Seco. Ele dizia que jamais atravessaria aquilo, que não dá! Ele sempre se equilibrou nas guias de ruas, mas agora, não... Não iria de forma alguma. Mas dizia isto com a certeza de que iria, era a única alternativa. Ele parecia um molenga chorando e reclamando toda hora, coisa que ele jamais foi! Mas estava sendo, a fim de ganhar algo de sua amada, eu acho.
Após todo o drama. Ela deu a mão a ele dizendo:
-Vamos juntos. Juntos. Eu pisarei e você irá atrás. Se conseguirmos, só mais uma semana de caminhada. E estaremos em casa, juntos de novo! Para sempre! Como sempre sonhamos.
Um ultimo abraço. E as mãos atadas. Isso o fez lembrar dos filmes de Indiana Jones. Uma pisada. Um sorriso. Um sorriso em resposta. Outra pisada e um calafrio. Estavam já suspensos sob o ar. Outros passos, agora sentiam que conseguiriam sim! E andaram pela tábua. Eles podiam ler um pouco mais a frente, cheios de frio na barriga, até mesmo ela que fora forte todo esse tempo parecia querer desistir. Liam. Logo no fim da tábua. Suspensa, sem nada segurando. Uma plaquinha vermelha iluminada, daquelas de saída de emergência. Escrita de branco. Saída. Essa placa parecia ser um anúncio para a morte de ambos. A placa que os conduziria para o fim eterno. De repente, ele... Se vendo sob esta situação perde ela de suas mãos, ele perde ela de vista. Era agora somente ele suspenso sob essa tábua. Sozinho, aonde fora parar seu amor? Cadê? Porque ela sumira? Por quê? Ele só conseguiu tudo isto por ela!
Aquele frio na barriga novamente, o corpo mole. Mole como nunca estivera. Tremendo. Ele disse a si mesmo que não desistiria nunca! Iria prosseguir sim, mesmo com o sumiço dela! Mas ouvia a voz de sua amada em um lugar que não sabia aonde, ouvia suas suplicas! E não conseguia identificar as palavras! Ele caiu de lado, como se perdendo o controle do corpo todo. Caia e caia. Vendo tudo a baixo de si girando e girando e girando. Agora podia sentir o vento que balançava a bandeira de sua pátria amada em seu rosto. Caia e caia. Sob uma velocidade que nem ele sabia. Todas as suas vísceras pareciam ter se desintegrado devida ao frio interno e toda sensação de explosão goela a baixo.
E ela se encontrava abraçada com ele, mais tarde, após a queda. Em um banco de praça sob a cidade de São Paulo. Os dois, sorrindo. Alegremente um para o outro. Fortemente! Agora estavam juntos de novo! – Eu te amo mais que tudo – Dizia ela – Eu também meu amor! Mais que tudo neste mundo, conseguimos, conseguimos, agora seremos mais felizes do que nunca! Só nós! Conseguimos, estamos aqui de novo! Que lindo! – Respondeu ele. Até o momento que uma jorrada de tiros de metralhadora veio próximo a eles... Uma jorrada... Gritos e mais gritos... Pessoas mortas... Seria este o fim?
As coisas se revelaram a ele através dum sonho, numa fria e fechada tarde de setembro. Quando a primavera não se revelou das mais inspiradoras. Aqueles dias que acorda e já sabe a depressão que se encontraria por todo o seu estar durante o passar das horas. Nada mais resolveu fazer do que dormir. E dormiu. Dormiu sem pensar nas conseqüências, ou nas obrigações que deveriam se suceder. Por passadas lentas e olhar moribundo, seguira pela guia da rua que morria em sua. Desligara-se da música que o acompanha sempre pelas jornadas escola-casa e casa-escola. Desviara das fezes animais e se emocionara quando viu um pequeno e belo gato pedindo carinho a ele. Lembrou do seu gato o esperando por uma felícia. Mas voltando ao sono. Ele dormia faminto. Entorpecido das drogas matutinas. Coberto por um amontoado aconchegante de edredons e cobertores, esquentando seu corpo ao ponto da sudorese. Seu gato fugira dele. E ele capotava sobre a realidade do sono e sobre a falsidade da vigília. Os sonhos.
Li este conto e julguei-o digno de um escritor.
ResponderExcluirE pensar que todas estas linhas tomaram vida em um sonho teu...
O que o incosciente está a querer nos mostrar, hein...
Descubramos.
Concordo com o Fernando. Muito bom ler voce :}
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